sábado, 4 de junho de 2022

“Seis meses na Rússia Vermelha” de Louise Bryant



 Todos conhecem o relato de John Reed sobre os primeiros dias da Revolução Russa. “Dez dias que abalaram o mundo” é leitura obrigatória entre as militantes e os militantes comunistas, já “Six Red Months in Russia: An Observers Account of Russia Before and During the Proletarian Dictatorship” de Louise Bryant não alcançaram tanto sucesso assim. Agora, traduzido para o português pela editora Lavra Palavra (@lavrapalavraeditorial), com o título “Seis meses na Rússia Vermelha”, tive a oportunidade de ler Bryant. O livro é uma coletânea dos artigos que ela publicou relatando suas experiências, bem como reportando as entrevistas, obtidas durante o tempo em que esteve na Rússia.

Bryant, como jornalista, fez um incrível trabalho ao combater as mentiras que muitos jornais publicavam sobre a Revolução. Talvez, leitora ou leitor, não seja suficiente eu dizer que Bryant era jornalista, ativista política, correspondente de guerra e feminista. Talvez, para que você sabia quem foi Bryant, eu tenha que dizer que ela foi esposa de John Reed de 1916 até a morte dele, em 1920. Infelizmente, nossa imagem ainda está atrelada à dos homens com que nos relacionamos. A recuperação de nossa história, de nossa participação na História, sistematicamente ocultada, felizmente, cada vez mais, afasta-nos de sermos pensadas como apêndices de homens. Bryant foi uma grande mulher por si mesma e como isso nos fortalece ainda hoje ao ler seu relato.

Dizem que Bryant estava na delegação de jornalistas para escrever sobre a Revolução sob um olhar feminino. Preciso fazer um adendo para destacar como a presença de mulheres em certos espaços é justificada com estes objetivos: mostrar um outro lado da situação, um olha feminino sobre o fenômeno etc. Nosso olhar nunca é um olhar objetivo, é sempre enviezado pela nossa feminilidade. Peço a vocês, leitores e leitoras, não caiam na tentação de ler o livro de Bryant com essa absurda ideia em mente. O que encontramos nas páginas dela são relatos sensíveis, objetivos e críticos sobre o que ela viu, características que não estão determinadas pela identidade de gênero.

É urgente a leitura desse livro, bem como de outros excelentes relatos sobre a Revolução, para que possamos combater a imagem negativa do que é uma revolução socialista, do que é um governo do proletariado, de como um povo é capaz de derrubar tiranos e autogerir-se. “Seis meses na Rússia vermelha” é um livro inspirador. Bryant explica fatos complexos, mas volta o olhar para pequenas relações, cenas cotidianas que, assim como as que se passam em grandes lugares de decisão, expõem o significado da Revolução.

Bryant entrevistou muitas pessoas, mas são os relatos sobre o papel e o trabalho das mulheres que mais me emocionaram. Alexandra Kollontai e Maria Spiridónova são, sem dúvida, grandes referências para a luta das mulheres; e, por meio do livro de Bryant, podemos ter uma noção mais clara de como as mulheres foram fundamentais para a luta revolucionária, da importância delas e do respeito e admiração que o povo lhes devotava.

Não quero dar nenhum spoiler por aqui, caras leitoras e leitoras, não quero que você deixe de verter algumas lágrimas se, como eu, você se emociona apenas em imaginar que uma revolução socialista já aconteceu no mundo, que um povo derrotou seus exploradores, que as massas trabalhadoras foram capazes de organizar uma sociedade sem patrões, por isso recomendo muito a leitura e peço que, se você lembrar, deixe aqui seu comentário para eu saber como foi sua experiência de leitura.

 

KARLA RAPHAELLA COSTA PEREIRA

Professora Dra. da UECE, Líder do GPOSSHE