quarta-feira, 16 de março de 2022

A ofensiva imperialista e a manobra defensiva da Russia

março 16, 2022


A atual intervenção russa na região denominada como Ucrânia deve ser entendida com os olhos da História e também da geopolítica. O reino da Polonia era o maior Estado europeu no século XVI. Logo virou um ninho de jesuítas. A monarquia eletiva entrou em declínio depois da guerra dos 30 anos e em 1667 perdeu pra a Rússia a território ocidental do que hoje é a Ucrânia. A parte oriental recebeu uma leva de migrantes russos que vinham do Norte, num movimento inverso em relação ao anterior. A região ficou conhecida como Nova Rússia ou Donbass.

A Ucrânia (há dúvidas, mas é provável que a palavra signifique fronteira) foi reconhecida dentro do império russo apenas em 1910. Na guerra civil / imperialista que se seguiu (1918-1920) a região contou com movimentos revolucionários e contrarrevolucionários variados. A política de autodeterminação das nacionalidades tornou possível a conformação da Ucrânia. Nos anos 30 foi o centro da resistência camponesa à coletivização da terra e houve desastres naturais de monta (uma grande seca, similar àquela de 1922). Criou-se a lenda do genocídio ucraniano.

A Ucrânia é uma região plurinacional, onde se fala muitas línguas e onde há tradições culturais diversas. Os russos são cerca de ¼ da população. Em 1991 a Ucrânia foi tomada de assalto por uma oligarquia corrupta, assim como a Rússia, o Cazaquistão, etc. que fez negócios com o Ocidente de tal monta a comprometer a estrutura produtiva desses Estados e até a demografia. A Rússia procurou recompor o seu poder econômico político desde 1999, considerando o desastre nacional da década anterior e o cerco que o imperialismo estabelecia. O acordo de a OTAN não se expandir não foi cumprido. A expansão ocorreu em direção a todos os países nos quais o socialismo foi suprimido e até pra países que antes compuseram na URSS, como os bálticos. A expansão da OTAN beneficiava o poder imperial dos EUA e a expansão da União Europeia beneficiava a economia alemã.

As primeiras tentativas imperialistas de ocupar a Ucrânia foram barradas, assim como foi barrada a tentativa de ocupação da Geórgia (em 2008). Em 2014, dentro de uma ofensiva mundial do imperialismo (que afetou inclusive o Brasil), foi executado um sangrento golpe de Estado na Ucrânia de estampado caráter nazista (vise símbolos e bandeiras), que tem no colaboracionista Stepan Bandera a sua principal referencia. De fato, na guerra contra a Alemanha (1941-1945), na Ucrânia se observou a presença significativa de colaboracionistas. O projeto é o de “ucranizar” o país, fazendo do ucraniano a única língua, se aliar a Europa e EUA e contribuir para a destruição da Rússia. A resistência se organizou nas zonas de maior presença dos russos e com os comunistas do KPU. A solicitação na Duma russa para que o governo promovesse a intervenção com urgência partiu da oposição comunista, mas Putin e o exército não tinham mais como postergar, dado que todas as tentativas diplomáticas foram recusadas pelos EUA e seus asseclas.

Para romper com a resistência a Ucrânia pediu ingresso na OTAN e na União Europeia. Em 2021 as forças da OTAN se reforçaram em toda fronteira russa, tentaram golpes na Belarus e no Cazaquistão e deslocaram frota para o Mar Negro. Com a Ucrânia na OTAN, os misseis americanos estariam as portas de Moscou, sem que a Rússia pudesse ter tempo para o revide. A guerra nuclear estaria vencida. Com o cerco estava se apertando e para a Rússia já não restava outra saída senão a intervenção na Ucrânia, não só para salvar os russos, mas principalmente, é claro, evitar que o cerco se fechasse. Outro movimento estratégico da Rússia para se defender, desta vez da sabotagem econômica, foi a aproximação com a China e com os países que antes compunham a URSS.

No entanto, o imperialismo está em serias dificuldades, as quais fazem parte da crise estrutural do capital. O declínio econômico político dos EUA encontra resposta no armamentismo e na tentativa de sabotar o crescimento da China, do qual a aliança com a Rússia é uma parte. Subjugar a Europa é também da maior importância pra impedir a expansão econômica da Eurásia em direção a esse território. O esforço militar investe no reforçamento e ampliação da OTAN e numa aliança global anglo-americana, que inclui Canadá, Grã-Bretanha, Australia e EUA.

O problema é que a sabotagem econômica contra Rússia tem alto preço para a Europa. Os EUA querem uma Europa armada, muito armada, mas querem também dependente de produtos americanos, como gás, petróleo, milho. Claro que isso não interessa a Alemanha e França principalmente, mas enquanto estiverem submetidos a estratégia antirussa dos EUA as coisas só podem piorar, pois o desabastecimento e a inflação já atravessaram as portas.

A intervenção russa avança com facilidade nas regiões habitadas pelos russos e lutam para libertá-los onde estão encurralados pelos nazistas. O cerco está perto de se fechar contra o Batalhão Azov, que ataca as regiões orientais (as repúblicas populares). As saídas para o mar estarão em mãos dos russos muito em breve. Kiev esta sitiada. A intenção da Rússia é eliminar os nazistas armados e prender a cúpula do governo. A intenção da Rússia é ver uma Ucrânia federada, que respeite a diversidade étnica cultural presente no território e neutra no campo internacional. Mas pode ser que isso não se realize completamente, por conta da forte pressão da OTAN, EUA, União Europeia e até da ONU. A Ucrânia pode se desmembrar, pode entrar em guerra civil, pode aparecer uma guerrilha mercenária. O cenário é muito incerto.

De certeza é que o deslocamento populacional já é enorme e afetará gravemente a vida econômica e política dos países da Europa oriental e da própria Ucrânia, todos eles com governo protofascista, de algum modo semelhantes àqueles dos anos 20 e 30, que cercavam a URSS. Importante é saber se a Alemanha resistirá a tentativa americana de colocá-la no tapete junto com toda Europa, pois isso poderia mudar a cena.

Importante também saber como as classes dominadas sob tacão do grande capital financeiro reagirão diante do agravamento das suas condições de vida já tão pioradas pela pandemia. Lutar pelo fim da OTAN e das bases militares americanas espalhadas pelo planeta parece ser a urgência maior. A lição seria a de ver como o capitalismo vive da guerra e da destruição.

 

 

Marcos Del Roio

 

Primeiramente publicado em: https://igsbrasil.org/blog/publicacao/1693643/a-ofensiva-imperialista-e-a-manobra-defensiva-da-russia

segunda-feira, 14 de março de 2022

139 anos sem Karl Marx

março 14, 2022


    Há 139 anos, em 14 de março de 1883, falecia Karl Marx, um dos principais nomes do movimento operário moderno, dirigente das primeiras organizações comunistas, em especial da Associação Internacional dos Trabalhadores (1a. Internacional), e seu mais importante teórico.


    Ao pé da tumba de Marx, Engels se expressou da seguinte forma sobre a perda do camarada e amigo: "A 14 de Março, um quarto para as três da tarde, o maior pensador vivo deixou de pensar. Deixado só dois minutos apenas, ao chegar, encontrámo-lo tranquilamente adormecido na sua poltrona — mas para sempre. O que o proletariado combativo europeu e americano, o que a ciência histórica perderam com [a morte de] este homem não se pode de modo nenhum medir. Muito em breve se fará sentir a lacuna que a morte deste [homem] prodigioso deixou".


    Neste momento em que a persistência do capitalismo, para muito além de suas possibilidades de desenvolver as forças produtivas, ameaça a humanidade com a destruição da civilização e com a guerra, retomar o método científico de Marx na organização de uma Internacional e de partidos revolucionários em cada país, se torna uma tarefa urgente e incontornável.


    Selecionamos uma breve passagem (dois pequenos capitulos) da obra O Pensamento Vivo de Karl Marx, de Leon Trotsky, como uma modesta homenagem à memória de Marx nesta data.



Eudes Baima


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O Pensamento Vivo de Karl Marx (Extratos)


Leon Trotsky


O Método de Marx


    Tendo definido a ciência como o conhecimento dos recursos objetivos da natureza, o homem procurou, obstinada e persistentemente, excluir a si mesmo da ciência, reservando-se privilégios especiais sob a forma de um pretenso intercâmbio com forças supra-sensíveis (religião) ou com preceitos morais independentes do tempo (idealismo). Marx privou o homem definitivamente e para sempre desses odiosos privilégios, considerando-o um elo natural no processo evolutivo da natureza material, a sociedade como a organização para a produção e a distribuição e o capitalismo como uma etapa no desenvolvimento da sociedade humana.

 

    A finalidade de Marx não era descobrir as “leis eternas” da economia. Ele negou a existência de tais leis. A história do desenvolvimento da sociedade humana é a história da sucessão de diversos sistemas econômicos, cada um dos quais atua de acordo com suas próprias leis. A transição de um sistema para outro sempre foi determinada pelo aumento das forças de produção, por exemplo, da técnica e da organização do trabalho. Até certo ponto, as mudanças sociais são de caráter quantitativo e não alteram as bases da sociedade, por exemplo, as formas prevalecentes da propriedade. Mas chega-se a um novo ponto quando as forças produtivas maduras já não podem conter-se por mais tempo dentro das velhas formas da propriedade: produz-se, então, uma mudança radical na ordem social, acompanhada de comoções. A comuna primitiva foi substituída ou complementada pela escravidão; à escravidão seguiu-se a servidão com sua superestrutura feudal; o desenvolvimento comercial das cidades levou a Europa, no século XVI, à ordem capitalista, que passou imediatamente por diversas etapas. Em seu Capital, Marx não estuda a economia em geral, mas a economia capitalista, que tem leis específicas próprias. Refere-se a outros sistemas apenas de passagem e com o objetivo de pôr em evidência as características do capitalismo.

 

    A economia da família de agricultores primitiva, que se bastava a si mesma, não tinha necessidade da “economia política”, pois era dominada por um lado pelas forças da natureza e por outro pelas forças da tradição. A economia natural dos gregos e romanos, completa em si mesma, fundada no trabalho dos escravos, dependia da vontade do proprietário dos escravos, cujo “plano” era diretamente determinado pelas leis da natureza e da rotina. O mesmo se pode dizer do Estado medieval com seus servos camponeses. Em todos esses casos as relações econômicas eram claras e transparentes em sua crueza primitiva. Mas o caso da sociedade contemporânea é completamente diferente. Ela destruiu essas velhas conexões completas em si mesmas e esses modos de trabalho herdados. As novas relações econômicas relacionaram entre si as cidades e as vilas, as províncias e as nações. A divisão do trabalho abarcou todo o planeta. Tendo destroçado a tradição e a rotina, esses laços não se estabeleceram de acordo com algum plano definido, e sim muito mais à margem da consciência e da previsão humanas. A interdependência dos homens, dos grupos, das classes, das nações, conseqüência da divisão do trabalho, não é dirigida por ninguém. Os homens trabalham uns para os outros sem conhecer-se, sem conhecer as necessidades dos demais, com a esperança, e inclusive com a certeza, de que suas relações se regularizarão de algum modo por si mesmas. E assim o fazem, ou melhor, assim gostariam de fazê-lo.

 

    É totalmente impossível encontrar as causas dos fenômenos da sociedade capitalista na consciência subjetiva — nas intenções ou nos planos de seus membros. Os fenômenos objetivos do capitalismo foram formulados antes que a ciência começasse a pensar seriamente sobre eles. Até hoje a imensa maioria dos homens nada sabe sobre as leis que regem a economia capitalista. Toda força do método de Marx reside em se aproximar dos fenômenos econômicos, não do ponto de vista subjetivo de certas pessoas, mas do ponto de vista objetivo do desenvolvimento da sociedade em seu conjunto, da mesma forma que um homem de ciência que estuda a natureza se aproxima de uma colméia ou de um formigueiro.

 

    Para a ciência econômica o que tem um significado decisivo é o que fazem os homens e como o fazem, o que pensam eles com relação a seus atos. Na base da sociedade não se encontram a religião e a moral, mas a natureza e o trabalho. O método de Marx é materialista, pois vai da existência à consciência e não o contrário. O método de Marx é dialético, pois observa como a natureza e a sociedade evoluem e a pr6pria evolução como a luta constante das forças em conflito.


O Marxismo e a Ciência Oficial


    Marx teve predecessores. A economia política clássica — Adam Smith, David Ricardo — floresceu antes que o capitalismo tivesse se desenvolvido, antes que começasse a temer o futuro. Marx rendeu aos grandes clássicos o perfeito tributo de sua profunda gratidão. No entanto, o erro básico dos economistas clássicos era considerarem o capitalismo como a existência normal da humanidade em todas as épocas, ao invés de considerá-lo simplesmente como uma etapa histórica no desenvolvimento da sociedade. Marx iniciou a crítica dessa economia política, mostrou seus erros, assim como as contradições do próprio capitalismo, e demonstrou que seu colapso era inevitável.

 

    A ciência não atinge sua meta no estudo hermeticamente fechado do erudito, e sim na sociedade de carne e osso. Todos os interesses e paixões que dilaceram a sociedade exercem sua influência no desenvolvimento da ciência, principalmente da economia política, a ciência da riqueza e da pobreza. A luta dos trabalhadores contra os capitalistas obrigou os teóricos da burguesia a dar as costas para a análise científica do sistema de exploração e a ocupar-se com uma descrição vazia dos fatos econômicos, o estudo do passado econômico e, o que é muitíssimo pior, com uma falsificação absoluta das coisas tais como são com o propósito de justificar o regime capitalista. A doutrina econômica ensinada até hoje nas instituições oficiais de ensino e que se prega na imprensa burguesa não está desprovida de materiais importantes relacionados com o trabalho, mas não obstante é inteiramente incapaz de abarcar o processo econômico em seu conjunto e descobrir suas leis e perspectivas, nem tem o menor intuito de fazer isso. A economia política oficial está morta.


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Referências

TROTSKY, Leon. O Pensamento Vivo de Karl Marx. Caderno Ensaio, Série Pequeno Formato VI. São Paulo: Ensaio, 1990.


domingo, 6 de março de 2022

Nos 151 anos de Rosa Luxemburgo, respeito a sua memória

março 06, 2022


5 de março marca o aniversário de nascimento da revolucionária Rosa Luxemburgo. Rosa, uma das principais dirigentes da época da 2ª Internacional, esteve à cabeça das principais mobilizações do proletariado na Polônia e, depois, na Alemanha no início do Século 20. Seu assassinato pelas forças do Estado alemão sob o governo da Socialdemocracia culminou justamente o combate que ela e Karl Liebknecht travaram na revolução alemã de 1918, esmagada pela burguesia imperialista.

No dia de seu aniversário, pululam nas redes sociais referências ao fato de que esta data coincide com a da morte de Josef Stálin, coveiro da Revolução de Outubro. Vários dos autores destas postagens tentam apresentar os dois como personagens afins, expressões distintas, quem sabe complementares, do marxismo no século passado.

De fato, Stálin, no período em que implementou as medidas reacionárias que fez a URSS retroceder de aspectos nucleares da Revolução de 1917, considerou necessário desencadear um ataque sem precedentes nos meios socialistas contra Rosa Luxemburgo, a pretexto de combater a teoria da revolução permanente, de Trotsky, perspectiva teórica, aliás, confirmada empiricamente pelas revoluções do século passado.

Stálin liga Rosa às origens da teoria de Trotsky com o fim de estigmatizar suas ideias. Para tanto lança mão de citações de Lênin referentes às duras polêmicas entre revolucionários internacionalistas sobre as questões suscitadas pelo período demarcado entre a revolução de 1905 e a de outubro de 1917, na Rússia. Lutas teóricas e políticas travadas entre ela e Lênin são descontextualizadas por Stálin para fazer Rosa parecer uma inimiga do principal dirigente da revolução russa.

Em homenagem a Rosa e no interesse de desfazer a tentativa falsificada de aproxima-la de Stalin ou equipara-la a ele, publicamos a seguir dois artigos de Leon Trotsky em que o revolucionário ucraniano desmascara as falsificações de que Stalin faz uso, nos anos de 1930, para manchar a memória da “Águia da Revolução”, epíteto com que Lenin se referia a Rosa. O primeiro é “Tirem as Mãos de Rosa Luxemburgo”, de 1931, e outro, de que publicamos apenas alguns extratos, é Rosa Luxemburgo e a 4ª Internacional, de 1935, e que aparece aqui na tradução publicada como Introdução à obra “Greve de Massas, Partido e Sindicatos, editada pela Kairós Livraria e Editora, em 1979.

 

Eudes Baima

 


 

Tirem as mãos de Rosa Luxemburgo!


Leon Trotsky

 

Em seu artigo “Uma contribuição para a história da questão da ditadura” (outubro de 1920), Lênin, tratando de problemas do estado soviético e da ditadura do proletariado colocados já pela revolução de 1905, escrevia: “representantes destacados do proletariado revolucionário e do marxismo sem falsificações, tais como Rosa Luxemburgo, apreciaram imediatamente a importância desta experiência prática e a analisaram criticamente em reuniões e na imprensa”. Pelo contrário, “(…) pessoas do tipo dos futuros ‘kautskistas’ (…) provaram ser absolutamente incapazes de compreender a importância desta experiência (…)”. Em poucas linhas, Lênin presta o tributo de seu reconhecimento da importância histórica da luta de Rosa Luxemburgo contra Kautski – uma luta que o próprio Lênin esteve longe de avaliar imediatamente em toda sua importância. Se para Stálin, o aliado de Chiang Kai-shek e o camarada em armas de Purcell, o teórico do “partido operário-camponês”, da “ditadura democrática”, do “não antagonizar a burguesia”, etc. – se para ele Rosa Luxemburgo é representante do centrismo, para Lênin ela é representante do “marxismo sem falsificações”. Qualquer um que conheça minimamente Lênin sabe o que significa esta designação vinda da sua pena.

Aproveito a ocasião para ressaltar aqui que nas notas das obras de Lênin há, entre outras coisas, as seguintes palavras sobre Rosa Luxemburgo: “durante o florescimento do revisionismo bernsteiniano e, mais tarde, do ministerialismo (Millerand), Luxemburgo conduziu uma batalha decisiva contra esta tendência, tomando sua posição na ala esquerda do partido alemão (…) Em 1907 ela participou como delegada da Social Democracia da Polônia e da Lituânia no congresso de Londres do Partido Operário Socialdemocrata Russo, apoiando a facção bolchevique em todas as questões básicas da revolução russa. Desde 1907, Luxemburgo se entregou inteiramente ao trabalho na Alemanha, assumindo uma posição de esquerda radical e conduzindo um combate contra as alas de centro e de direita (…) Sua participação na insurreição de janeiro de 1919 converteu seu nome em bandeira da revolução proletária”.

É claro que o autor destas notas provavelmente confesse seus pecados amanhã e anuncie que ele as escreveu tomado por ignorância na época de Lênin, e que ele chegou ao completo esclarecimento apenas na época de Stálin. Atualmente a imprensa de Moscou publica todos os dias anúncios deste tipo – combinações de servilismo, bufonaria e idiotice. Mas eles não mudam a natureza das coisas: não há machado que possa cortar nem poderes que possam mudar aquilo que uma vez foi colocado em preto e branco. Sim, Rosa Luxemburgo se tornou uma bandeira da revolução proletária!

No entanto, como e por quê Stálin se dedicou subitamente – depois de tanto tempo – à revisão da velha avaliação bolchevique de Rosa Luxemburgo? Tal como foi o caso com todos os seus abortos teóricos anteriores, com este último, e mais escandaloso, a origem está na lógica da sua luta contra a teoria da revolução permanente. Neste artigo “histórico”, Stálin mais uma vez dedica sua maior parte a esta teoria. Não há uma única palavra nova naquilo que ele diz. Respondi há muito tempo todos os seus argumentos no meu livro “A Revolução Permanente”. Do ponto de vista histórico, a questão estará suficientemente esclarecida, acredito, no segundo volume da “História da Revolução Russa” (A Revolução de Outubro), agora em impressão. No caso atual, a questão da revolução permanente nos interessa apenas na medida em que Stálin a relaciona ao nome de Rosa Luxemburgo. Veremos agora como o teórico infeliz armou uma armadilha mortífera para si mesmo.

Depois de recapitular a polêmica entre os mencheviques e os bolcheviques na questão das forças motrizes da Revolução russa e depois de comprimir magistralmente uma série de erros em umas poucas linhas, os quais sou obrigado a deixar de lado sem examinar, Stálin escreve: “qual foi a atitude dos socialdemocratas alemães de esquerda, de Parvus e Rosa Luxemburgo, diante desta polêmica? Eles inventaram um esquema utópico e semimenchevique de revolução permanente (…) Pouco depois, Trotsky (e, em parte Martov) tomaram este esquema e o transformaram em uma arma na luta contra o leninismo”. Tal é a inesperada história da origem da teoria da revolução permanente, de acordo com as mais recentes pesquisas históricas de Stálin. Mas, certamente, o investigador esqueceu de consultar suas próprias e ilustres obras anteriores. Em 1925, o mesmo Stálin já havia se expressado sobre esta questão em sua polêmica contra Radek. Eis o que ele escreveu à época: “não é verdade que a teoria da revolução permanente (…) foi apresentada em 1905 por Rosa Luxemburgo e Trotsky. Na realidade, esta teoria foi apresentada por Parvus e Trotsky”. Esta afirmação pode ser conferida na página 185 de “Questões do Leninismo”, edição russa, 1926. Esperemos que figure em todas as edições estrangeiras.

Portanto, em 1925, Stálin declarou Rosa Luxemburgo inocente do pecado capital de participar da criação da teoria da revolução permanente. “Na realidade, esta teoria foi apresentada por Parvus e Trotsky”. Em 1931, fomos informados pelo mesmo Stálin que foram precisamente “Parvus e Rosa Luxemburgo (…) que criaram o esquema utópico e semimenchevique da revolução permanente”. Enquanto Trotsky, não criou a teoria, só “a colocou”, ao mesmo tempo que… Martov! Mais uma vez Stálin se enrolou sozinho. Talvez escreva sobre problemas dos quais não consegue distinguir nem pé nem cabeça. Ou ele está conscientemente embaralhando cartas marcadas ao jogar com as questões básicas do marxismo? É correto colocar esta questão como alternativa. Na realidade, tanto uma como a outra são verdadeiras. As falsificações stalinistas são conscientes na medida que estão ditadas a cada momento dado por interesses concretos inteiramente pessoais. Ao mesmo tempo elas são semiconscientes, na medida que sua ignorância congênita não coloca qualquer impedimento às suas propensões teóricas.

Mas os fatos permanecem sendo fatos. Na sua luta contra o “contrabando trotskista”, Stálin caiu em desgraça com um novo inimigo pessoal, Rosa Luxemburgo! Ele não parou por um momento antes de mentir sobre ela e vilipendiá-la; e mais ainda, antes de colocar em circulação suas doses gigantes de vulgaridade e deslealdade, ele nem mesmo se deu o trabalho de verificar o que ele mesmo disse sobre o mesmo assunto seis anos antes.

A nova variante da história das ideias da revolução permanente teve sua origem sobretudo na necessidade de proporcionar um prato mais apimentado do que todos os anteriores. É desnecessário explicar que Martov foi arrastado pelos cabelos para tornar mais picante a culinária teórica e histórica. A atitude de Martov diante da teoria e prática da revolução permanente foi de um antagonismo inalterável, e nos velhos tempos, assinalou mais de uma vez que as concepções de Trotsky sobre a revolução eram rejeitadas igualmente por bolcheviques e mencheviques. Mas não vale a pena deter-se sobre isso.

O que é verdadeiramente fatal é que não há uma única questão importante da revolução proletária internacional sobre a qual Stálin não tenha expressado duas opiniões diretamente contraditórias. Todos sabemos que em abril de 1924, ele demonstrou de maneira conclusiva em “Questões do Leninismo” a impossibilidade de construir o socialismo em um só país. No outono, em uma nova edição do livro, ele substituiu esta demonstração pela demonstração – quer dizer, a simples afirmação – de que o proletariado “pode e deve” construir o socialismo em um só país. Todo o resto do texto foi deixado inalterado. No decurso de uns poucos anos, e às vezes de alguns meses, Stálin conseguiu apresentar posições mutuamente excludentes sobre a questão do partido operário-camponês, das negociações de Brest-Litovsk, da liderança da Revolução de Outubro, sobre a questão nacional, etc., etc. Seria incorreto colocar a culpa de tudo em uma memória deficiente. O problema é mais profundo. Stálin carece de todo método de pensamento científico, de critérios de princípio. Ele encara todas as questões como se estas tivessem nascido neste mesmo momento e estivessem isoladas de todas as outras questões. Para emitir seus juízos se guia inteiramente pelo interesse pessoal mais importante e urgente do dia. As contradições em que cai são a consequência direta do seu empirismo vulgar. Não vê Rosa Luxemburgo no marco do movimento operário polonês, alemão e internacional do último meio século. Não, para ele, ela é cada vez uma figura nova e, além disso, isolada, diante da qual se vê obrigado a perguntar a cada nova situação: “quem está ali, amigo ou inimigo?” Seu instinto infalível sussurrou agora para o teórico do socialismo em um só país que a sombra de Rosa Luxemburgo lhe é inimiga irreconciliável. Mas isso não impede que esta grande sobra continue sendo a bandeira da revolução proletária internacional.

Em 1918, em sua prisão, Rosa Luxemburgo criticou muito duramente e de maneira fundamentalmente incorreta a política dos bolcheviques. Mas, inclusive naquele que foi seu trabalho mais incorreto, percebem-se as asas de águia. Eis aqui sua caracterização geral da insurreição de outubro: “tudo o que o partido pode fazer no terreno da bravura, da ação firme, da previsão e coerência revolucionárias: tudo isto o fizeram Lênin, Trotsky e seus camaradas. Toda a honra revolucionária e a capacidade de ação que tanto fizeram falta à socialdemocracia ocidental, os bolcheviques demonstraram possuir. Sua insurreição de outubro salvou não apenas a Revolução Russa como também a honra do socialismo internacional”. É possível que esta seja a voz do centrismo?

Nas páginas seguintes, Luxemburgo submete a uma dura crítica a política dos bolcheviques no terreno agrário, sua palavra de ordem de autodeterminação nacional e sua rejeição à democracia formal. Podemos acrescentar que nesta crítica, dirigida tanto contra Lênin quanto contra Trotsky, não faz nenhuma distinção entre as posições de ambos; e Rosa Luxemburgo sabia ler, compreender e perceber os matizes. Por exemplo, nem sequer lhe passou pela cabeça acusar-me de que, ao me solidarizar com Lênin na questão agrária, eu teria mudado minha posição sobre o campesinato. Além disso, ela conhecia muito bem meus pontos de vista, já que em 1909 os desenvolvi detalhadamente em seu jornal polonês. Rosa Luxemburgo termina assim sua crítica: “na política, o essencial do essencial, o fundamental do circunstancial”. Considera fundamentais as forças das massas em ação, a vontade de chegar ao socialismo. “Neste sentido – escreve – Lênin, Trotsky e seus companheiros foram os primeiros a dar o exemplo ao proletariado mundial; ainda são os únicos que, até agora, podem gritar com Huteen: ‘eu ousei!’”

Sim, Stálin tem motivos suficientes para odiar Rosa Luxemburgo. Mais imperiosa então é nossa obrigação de resgatar sua memória das calúnias de Stálin, que têm sido acolhidas pelos funcionários a soldo de ambos os hemisférios, e transmitir às jovens gerações proletárias, em toda sua grandeza e força inspiradora, esta imagem realmente bela, heroica e trágica.

ROSA LUXEMBURGO E A 4ª INTERNACIONAL (Rápidas observações a respeito de uma importante questão)

Leon Trotsky

(…)

Podemos afirmar sem qualquer exagero: a situação mundial está determinada pela crise de direção do proletariado. O campo do movimento operário encontra-se ainda bloqueado pelas sobras poderosas das velhas organizações falidas. Depois de numerosas derrotas e desilusões, o grosso do proletariado europeu encontra-se fechado em si mesmo.

O decisivo ensinamento que ele tirou, consciente ou semiconscientemente, de suas amargas experiências é o seguinte: as grandes ações exigem uma direção à altura. Para os negócios do dia-a-dia os operários continuam a dar seus votos às antigas organizações. Mas apenas seus votos, em absoluto sua confiança ilimitada. Por outro lado, após a lamentável decomposição da III Internacional, tornou-se muito mais difícil incitá-los a confiar em uma nova direção revolucionária. Nessa situação, recitar um monótono canto à glória das ações de massas relegadas a um futuro incerto, com o único fim de opor a uma seleção consciente dos quadros para uma nova Internacional, significa realizar um trabalho reacionário do começo ao fim.

A crise da direção proletária não pode, evidentemente, ser resolvida por meio de uma fórmula abstrata. Trata-se de um processo cuja duração é extremamente longa. Mas trata-se não apenas de um processo “histórico”, isto é, das condições objetivas da atividade consciente, mas de uma série ininterrupta de medidas ideológicas, políticas e organizativas, tendo em vista unir os melhores elementos, os mais conscientes do proletariado mundial sob uma bandeira sem mácula, de reforçar cada vez mais seu número e sua confiança em si próprios, de desenvolver e aprofundar sua ligação com camadas cada vez mais amplas do proletariado, em uma palavra: conferir novamente ao proletariado, em meio a uma situação nova, extremamente difícil e cheia de responsabilidades, sua direção histórica. Os confusionistas da espontaneidade deste recente modelo têm tão pouco direito de fazer apelo a Rosa Luxemburgo quanto os burocratas do COMINTERN a Lenin. Se deixarmos de lado tudo aquilo que é acessório e já ultrapassado pela evolução, temos todo o direito de colocar nosso trabalho pela IV Internacional sob o signo dos “três L”, ou seja, não apenas o de Lenin, mas igualmente sob o de Luxemburgo e Liebknecht.”

 

Primeiramente publicado em www.otrabalho.org.br


sábado, 5 de março de 2022

A função social do pensamento de Nietzsche

março 05, 2022

 

 

         Na segunda metade do século XIX, época do surgimento do pensamento de Nietzsche, a burguesia adotou uma nova política de alianças com a monarquia e a nobreza da Europa, renunciando assim às suas próprias bandeiras democráticas e republicanas, com o objetivo de pôr fim à grande onda revolucionária européia ocorrida em 1848 que chegou a ameaçar os fundamentos de sua posição de classe. Essa transição política da burguesia para o reacionarismo teve como resultado necessário um novo sentimento de decadência cultural no qual, principalmente no meio da intelectualidade, houve a perda da crença no progresso social da humanidade, o que se traduzia subjetivamente “num relativismo, pessimismo e nihilismo etc autocomplacente, nascisista e frívolo, mas que muitas vezes se converte – em intelectuais honestos – em um sincero estado de desespero e, como consequência, numa atmosfera de rebeldia (messianismo etc.)[1]

 

         Neste contexto histórico, Nietzsche surge “como psicólogo da cultura, como esteta e moralista, como o mais genial e completo expoente desse autoconhecimento da decadência (da cultura de sua época). Mas a sua importância vai ainda muito além disso: reconhecendo a decadência como fenômeno fundamental do desenvolvimento burguês de seu tempo, ele assume a tarefa de apontar o caminho de sua autossuplantação, pois entre os mais vivazes e atentos intelectuais que se encontram sob a influência da visão decadente de mundo surge, necessariamente, também o desejo de sua suplantação.[2]

 

         Nietzsche percebeu que este desejo de suplantação desta decadência do mundo burguês poderia levar os intelectuais de seu tempo a aderirem ao ascendente movimento socialista liderado pelos trabalhadores que, em sua luta por mais democracia formal (sufrágio universal) e substantiva (redução da jornada de trabalho), manifestavam uma moral elevada que podia ser interpretada como um germe de uma possível regeneração da humanidade. E de fato nesta época houve a adesão de parte da intelectualidade a lutas progressistas como as que buscavam a revogação da lei contra os socialistas na Alemanha, as que se opunham à deflagração da Primeira Guerra Mundial (imperialista) e as que denunciavam o antissemitismo manifestado no farsesco julgamento do capitão francês Alfred Dreyfus, judeu injustamente condenado por espionagem e traição no final do século XIX.

 

         Para Lukács, neste contexto histórico, “a missão social que compete à filosofia de Nietzche consiste em ‘salvar’ esse tipo de intelectual burguês, em ‘redimi-lo’, indicando-lhe um caminho que torna desnecessária toda e qualquer ruptura, e até mesmo toda e qualquer tensão maior com a burguesia; um caminho no qual o agradável sentimento moral de ser um rebelde pode continuar existindo, tornando-se até mais acentuado, na medida em que se contrapõe, sedutoramente, uma revolução ‘mais profunda’, ‘cósmico-biológica’ (defendida por Nietzsche) à ‘superficial’ e ‘exterior’ revolução social”. A “revolução” proposta por Nietzsche, portanto, mantém intactos os alicerces da sociedade burguesa e dirige o sentimento de rebeldia de sua intelectualidade contra o desejo de emancipação social dos trabalhadores, ou seja, contra o socialismo, na medida mesma em que seu pensamento despreza e repele a revolução social proposta pelos socialistas.

 

         Contrapondo-se assim à luta democrática e socialista dos trabalhadores europeus, Nietzsche evidentemente recusa-se a ver nela os germes de uma renovação positiva da sociedade, pelo contrário, vê no movimento político da plebe um sinal de degradação social e cultural da Europa. Isto o faz desprezar os existentes sinais indicativos de um possível progresso social (como a elevada moral individual dos trabalhadores em luta) e o conduz inelutavelmente a basear a sua “revolução” em elementos de decadência existentes no mundo burguês, pois para ele “é exatamente na decadência onde residem os germes autênticos destinados a produzir uma efetiva e profunda renovação da humanidade.[3] E é justamente por isso que ele utiliza a forma mítica para elaborar o seu pensamento, pois para se postular um progresso humano que contraditoriamente tenha como base de apoio a valoração positiva de elementos de decadência e de degeneração de uma sociedade dada, é absolutamente necessário se afastar dos dados da realidade objetiva. O afastamento da realidade objetiva, por sua vez, condiciona a sua rejeição a qualquer tipo de pensamento sistemático, a qualquer abordagem filosófica que encare a realidade como uma totalidade:

 

         O próprio Nietzsche manifesta-se de modo muito decidido contra qualquer tipo de sistema: ‘Desconfio de todos os sistematizadores e os evito. A vontade de sistema é uma falta de retidão’ (máxima número 26 de ‘Máximas e Flechas’, in Crepúsculo dos Ídolos. São Paulo. Companhia das Letras, p. 11). Esta é uma tendência que já pudemos observar em Kierkegaard, e que não tem nada de casual. A crise filosófica da burguesia, que se manifestou na dissolução do hegelianismo, foi muito mais que o reconhecimento da insuficiência de um sistema determinado; ela foi a crise do pensamento sistêmico milenar que predominou. Junto com o sistema hegeliano ruiu também a aspiração de ordenar e compreender de modo unitário – a partir de princípios idealistas, portanto, dos elementos da consciência humana – a totalidade do mundo, as leis do seu devir. (…) E também sabemos que esse esgotamento do sistema no interior do pensamento burguês fez nascer um relativismo e agnosticismo infundados, como se a necessária renúncia à sistematização idealista significasse, ao mesmo tempo, a renúncia à objetividade do conhecimento, às conexões reais dentro da realidade e à sua cognoscibilidade. Mas sabemos também que o desaparecimento definitivo do sistema idealista trouxe consigo, simultaneamente, a descoberta das conexões reais da realidade objetiva: o materialismo dialético. Engels, e uma polêmica com o contemporâneo de Nietzsche, Eugen Dühring, formula a nova situação filosófica da seguinte maneira: ‘A unidade real do mundo consiste em sua materialidade’ (Anti-Dühring, São Paulo: Boitempo Editorial, 2015, p. 74). As ciências particulares procuram refletir – e compreender conceitualmente – essa unidade (com aproximação cada vez maior); a filosofia reúne os princípios e as leis desse conhecimento. A conexão sistemática, portanto, não desapareceu. Mas ela não aparece mais na forma de ‘essencialidades’ idealistas, mas sempre como reflexo aproximado daquela unidade, daquela conexão, daquela legalidade, que estão presentes e atuantes, objetivamente – independentemente da nossa consciência -, na própria realidade.[4] grifo nosso

 

         Lukács nos explica ainda que sendo a função social do pensamento de Nietzsche a de evitar a adesão da intelectualidade ao movimento socialista, a sua filosofia acabou por ser dirigida fundamentalmente aos intelectuais, razão por que a sua obra “ocupa-se, sobretudo, dos problemas da cultura e, entre estes, principalmente, da arte e da ética individual. A política manifesta-se sempre como horizonte abstrato mítico, e, em matéria de economia, a ignorância de Nietzsche é comparável àquela de um intelectual mediano de seu tempo. Mehring aponta, com toda razão, para o fato de que os argumentos de Nietzsche contra o socialismo nunca superaram o nível de um Leo, de um Treitschke etc. Mas é precisamente essa combinação de um antissocialismo brutal e ordinário com uma crítica da cultura e da arte refinada, engenhosa e, às vezes, até acertada (lembremos da crítica a Wagner, ao Naturalismo etc.), que torna os seus conteúdos e modos de representação tão sedutores para a intelectualidade imperialista.”[5]

 

         Nos próximos textos buscaremos descrever alguns dos traços mais importantes da filosofia de Nietzche, inclusive aqueles que revelam a dita valorização dos elementos de decadência da sociedade burguesa.

 

Sávio Bastos



[1]Lukács, A Destruição da Razão, Ed. Instituto Lukács, p. 276.

[2]Lukács, A Destruição da Razão, Ed. Instituto Lukács, p. 276.

[3]Lukács, A Destruição da Razão, Ed. Instituto Lukács, p. 277.

[4]Lukács, A Destruição da Razão, Ed. Instituto Lukács, p. 281/282.

[5]Lukács, A Destruição da Razão, Ed. Instituto Lukács, p. 277.