sábado, 23 de abril de 2022

152 anos do nascimento de Lênin

abril 23, 2022


No dia 22 de abril de 1870 nascia Vladimir Ilyich Ulianov, mais conhecido pelo pseudônimo Lênin. Fundador do bolchevismo e dirigente da primeira revolução socialista vitoriosa do mundo. Lênin deixou um precioso legado teórico-político para os trabalhadores e revolucionários do mundo inteiro. Em síntese Lênin viveu pela e para a emancipação do proletariado das cadeias do capitalismo. Lênin lutou pelo poder dos trabalhadores.

 

Lênin lutou por isto:

 

AOS CIDADÃOS DA RÚSSIA!

V. I. Lênin

 

25 de outubro de 1917 (7 de novembro de 1917)

 

O Governo Provisório foi deposto. O poder de Estado passou para as mãos do órgão do Soviete de Deputados Operários e Soldados de Petrogrado — o Comitê Militar Revolucionário —, que se encontra à frente do proletariado e da guarnição de Petrogrado.

A causa pela qual o povo lutou — a proposta imediata de uma paz democrática, a supressão da propriedade latifundiária da terra, o controle operário sobre a produção, a criação de um Governo Soviético — esta causa está assegurada.

Viva a revolução dos operários, soldados e camponeses!

 

Comité Militar Revolucionário
anexo ao Soviete de deputados operários
e soldados de Petrogrado

25 de outubro de 1917, 10 da manhã.

terça-feira, 19 de abril de 2022

Hipersexualização das divas pop

abril 19, 2022

 

Quando uma cantora pop está fazendo muito sucesso e se destacando na mídia, um tema sempre volta ao tópicos das conversas: a hipersexualização das divas pop. Esse fenômeno sempre foi muito interessante porque, antes, a maioria das posições críticas em relação à apologia ao sexo feita pelas cantoras eram tomadas como conservadoras e, se vinham de pessoas alinhadas à esquerda, eram, conservadorismo de esquerda.

Com o avanço de uma perspectiva feminista liberal, ou seja, aquela que acredita que é possível superar a opressão de gênero sem superar o capitalismo, entendia-se que a mensagem mais importante era que as cantoras transmitiam, ao sexualizar suas perfomances, era a de liberdade sexual para as mulheres, de liberdade de decisões sobre o uso de nossos corpos, empoderamento feminino, portanto.

Hoje - baseada no que eu tenho visto de vídeos sobre o assunto na internet - a posição crítica tem sido mais entendida e discutida. As pessoas tem notado algumas questões importantes sobre o tema, por exemplo que o sexo vende, que  indústria cultural é majoritariamente masculina, que a sexualização das cantoras atende um mercado que não é dominado por elas; e que a hipersexualização pode trabalhar mais para a própria opressão das mulheres do que para o seu empoderamento. Vou deixar o link para um exemplo dessa posição mais crítica aqui.

Uma análise muito interessante pode ser vista no vídeo da professora Juliana Diniz da Universidade Federal do Ceará, no qual ela aponta como ambas as posições podem cair num moralismo e num patrulhamento do corpo feminino, já que às mulheres, historicamente, foi negado o prazer. Vou deixar o link para esse vídeo aqui. Discordo da professora quando ela atribui à posição marxista uma crítica moralista. Há moralistas no marxismo, mas o marxismo, em si, não é moralista.

Na minha opinião, tanto a posição mais crítica que entende como a hipersexualização serve ao mercado como a posição de que essa sexualização excessiva serve para superar a domesticação dos corpos e empoderar mulheres ficam na superfície do fenômeno. Ambas as posições olham para a mulher, para o mercado, para a indústria cultural, mas não olham para o sistema, para a lógica que engendra todas essas coisas e das quais ninguém pode escapar, apenas ser engendrado por ela, em maior ou menos medida.

Vejamos unicamente o caso das mulheres. Peguemos a Anitta, pois sabemos que foi o sucesso internacional dela que levantou, de novo, esse debate. Anitta afirma, em seu documentário disponível na Netflix, que não deu um ponto sem nó em sua carreira, que sabe o que está fazendo e o faz para chegar onde ela quer, alcançar seus objetivos. Ela chegou. Como podemos afirmar, ao mesmo tempo, que Anitta é vítima de uma ideologia patriarcal subjacente à indústria cultura e louvar sua autonomia e inteligência como empresária? Simples: sexo vende, Anitta sabe que sexo vende, como ela quer vender, ela sexualiza suas performances. Do ponto de vista empresarial, Anitta é um sucesso.

O que eu quero destacar é que a sexualização das cantoras é uma estratégia e que essa estratégia só é um sucesso porque a sociedade consome esse tipo de conteúdo. É um processo que se retroalimenta. As mulheres são objetificadas, a objetificação das mulheres vende, as mulheres serão produtos e empresárias de sua própria objetificação. Por trás dessa lógica, está sim o capitalismo. No capitalismo, tudo é mercadoria.

A mulher é, para o capitalismo, uma das mercadorias mais restáveis porque nós somos muito úteis e não somos pagas. Nós produzimos e reproduzimos a mercadoria mais importante para o capitalismo: as pessoas, que venderão aos capitalistas a força de trabalho para extração de mais-valia nos locais de trabalho. Se o capitalismo permitir qualquer desobjetificação, valorização das mulheres, o resultado será oneroso aos cofres capitalistas. Quem vai aceitar ficar em casa parindo e cuidando das pessoas para serem exploradas? Onde serão feitas as refeições, quem cuidará dos bebês e dos idosos, se não for a dona de casa ou as trabalhadoras mal remuneradas?

Interessa e muito para o sistema capitalista que a imagem da mulher como objeto de consumo seja propagada e não faz diferença se esse consumo é ou não é consentido. Quem ganha com a sexualização das mulheres é a ideologia machista do capitalismo, acontece que às mulheres que colaborar com o fortalecimento dessa ideologia também ganham, ficam mi-bilhonárias. São poucas mulheres. A maioria continuará sofrendo as consequências do machismo.

Vale alertar também que há contradição nesse processo: a imagem de mulheres que são donas dos próprios corpos e que os utilizam para o próprio prazer é transmitida e produz mudanças de mentalidade sim. Acontece que as ideias não mudam a realidade sozinhas. Não é suficiente que as mulheres assumam a ideia de que são donas dos próprios corpos. Se nós não pudermos desfrutar livremente a prática dessa ideia, na realidade concreta, ela é uma ilusão. Quem pode desfrutar da ideia de liberdade sexual para as mulheres? Quais são as mulheres que podem escolher seus parceiros, que podem abandonar seus parceiros por outros? Que podem substituir seus parceiros sexuais opressores por vibradores? Quais mulheres podem comprar vibradores?

A ideia de liberdade sexual feminina é belíssima, correta e urgente, mas, no capitalismo, ela é uma ideia que se subordina a tantas outras relações opressivas que se dilui no chorume da violência de gênero.


KARLA RAPHAELLA COSTA PEREIRA

Professora Dra. da UECE, Líder do GPOSSHE

quarta-feira, 13 de abril de 2022

Crítica de Arte | Ruptura

abril 13, 2022

 

Severence é uma série americana de suspense produzida pela Apple TV+, criada por Dan Erickson e dirigida por Ben Stiller e Aoife McArdle. Ruptura, como ficou nomeada no Brasil, é um procedimento ao qual os funcionários das Indústrias Lumen precisam se submeter para trabalharem na empresa. Trata-se de uma separação, de uma ruptura, entre as memórias do trabalho e as memórias da vida. Ou seja, quando está no trabalho, o funcionário não lembra de nada do que faz ou do que é fora dele; quando está fora do trabalho, não possui a menor lembrança do que faz no trabalho. Cada um é dois: o Interno e o Externo.

Somos apresentados a esse cenário no dia em que Mark S. (Adam Scott) é promovido a supervisor de seu setor, Refinamento de Macrodados, graças à demissão de seu amigo Peter. Mark S., no início, é insuportavelmente satisfeito e integrado ao trabalho, mas, com a recente função e a chegada de uma nova funcionária, Helly R., passará a questionar o sentido do ambiente em que trabalha.

Algumas informações são muito interessantes para destacar o ambiente sufocante da empresa.

 

1 Ao sofrer a ruptura, a mente do funcionário se divide. Do lado de fora, há a parte que sabe o motivo de ter se submetido a tal procedimento, que possui uma vida, uma história, família etc., mas, a parte da mente que se liga quando entra na empresa nasceu e só existe naquele ambiente; é uma nova pessoa cuja história se resume às oito horas de trabalho que cumpre entre as paredes da Lumen. Esse indivíduo sequer vive a experiência mental de dormir, já que não está consciente à noite.

 

2 Ninguém sabe o que a empresa faz, produz. Os diferentes setores da empresa não se comunicam e cada um cumpre uma determinada função cujo sentido não é apresentado aos funcionários. O setor de Mark S., Helly R. é chamado de Refinamento de Macrodados, mas nem eles nem seus colegas, Irving e Dylan, sabem quais dados refinam, pois a atividade que executam é organizar números numa tela de computador.

 

Inicialmente, já notamos como a ruptura é severa para o Interno, mas será que o externo dos funcionários são verdadeiramente livres?

Se pensarmos no modo de produção capitalista, perceberemos que a ruptura ja existe: no trabalho somos outros, o bom funcionário para o patrão é aquele que se entrega completamente e esquece o seu eu exterior para se dedicar à empresa. Durante as oito (ou mais) horas de trabalho, você não é você, você é uma coisa, uma mercadoria alugada para cumprir uma função, por isso quanto menos suas aspirações pessoais, seus problemas familiares, sua subjetividade interferirem no trabalho mais produtivo, competente você é. A série de Dan Erickson simplesmente radicaliza essa ruptura.

Acontece que não somos máquinas. Nossa humanidade não pode ser domada pelo capital. Até agora, tenho compreendido a série como uma alegoria do capitalismo. No início, tive medo do fatalismo ser a mensagem central, mas, pelo menos nessa primeira temporada, a coisa não é bem assim. Não gosto de dar spoilers, mas se vocês resolverem se aventurar na saga de Mark S. e seus colegas de trabalho. Observem a presença de dois livros e suas respectivas ideologias, o manual que guia os funcionários na empresa e um livro do mundo exterior contrabandeado para dentro da Lumen. Algumas ideias deste vão de encontro às daquele e eu diria que são revolucionárias. Não sei se a semelhança com um certo livro de um certo barbudo é apenas mera coincidência.

Como todas as séries da Apple TV+ que tenho assistido até agora, Ruptura começa um pouco lenta, mas, aos poucos, vai mostrando a que veio, envolvendo a audiência nos mistérios da Lumen e nas angústias dos internos. O desenvolvimento dos episódios vai criando uma expectativa pela revelação dos objetivos por trás de todo teatro do qual os funcionários são nitidamente fantoches, cobaias de laboratório. Vale a pena a insistência.

Para mim, estão plasmados a divisão capitalista do trabalho, a alienação em suas diversas dimensões e muitos outros aspectos desenvolvidos por Marx na crítica da economia política. Ok. É totalmente contraditório afirmar que uma das maiores empresas capitalistas do mundo, a Apple, possui qualquer interesse em criticar o capitalismo, mas há elementos no fazer artístico que rompem com os objetivos traçados para ela por seus criadores. Vejamos o que a segunda temporada já confirmada nos trará.

Em tempo: se vocês assistirem, deixem aqui a opinião de vocês. Estou super curiosa para saber.

 


KARLA RAPHAELLA COSTA PEREIRA

Professora Dra. da UECE, Líder do GPOSSHE