sábado, 9 de maio de 2020

O que a história do nazismo ensina sobre Weintraub, o inimigo da educação brasileira


No dia 10 de maio de 1933, há 87 anos atrás, Joseph Goebbels (1897-1945), ministro da propaganda de Hitler, compareceu à Opernplatz[1] em Berlim, para uma cerimônia grotesca e planejada detalhadamente: a queima de livros destinada a demonstrar a rejeição da Alemanha nazista à cultura intelectual “subversiva” e “degenerada” da República de Weimar. Uma multidão de cerca de 40 mil pessoas apoiou esse ritual simbólico de purificação da cultura alemã. Estudantes nazistas lançavam livros de autores judeus e de esquerda numa imensa fogueira, acompanhados por canções patrióticas, marchas e aplausos efusivos. A barbárie não parou aí. Manifestações similares foram realizadas em cidades universitárias por todo Reich. Boa parte dos livros entregues às chamas era de bibliotecas das universidades, mas ocorreram casos em que cidadãos particulares também levaram seus exemplares para os crematórios da cultura.

A queima de livros fazia parte de um movimento coordenado e subordinado à denominada Glechschaltung (mudar na mesma direção, linha ou corrente), com o objetivo de produzir uma Volksgemeinshaft (comunidade nacional ou do povo) uniforme, harmoniosa e militante baseada na afinidade cultural e “racial”. Esse projeto nazista retirou a autoridade dos governos e parlamentos estaduais, provocou expurgo no serviço público e levantou a necessidade de “despolitizar” a educação, com o afastamento de acadêmicos e pensadores dissidentes e/ou judeus sob a falsa alegação de liberdade de investigação e expressão.

De volta ao Brasil dos dias atuais, a barbárie apresenta-se com novos atores e roteiro. País de capitalismo periférico, com passado escravista colonial recente, sob um governo de extrema direita. O bolsonarismo possui uma Glechschaltung neofascista e fundamentalista que visa aumentar o grau de superexploração do trabalho, destruir as organizações das massas trabalhadoras e dos movimentos sociais, transformar o Brasil numa colônia dos Estados Unidos e aniquilar as conquistar democráticas arrancadas na luta contra a ditadura militar.

Nesse contexto hediondo, de crise econômica e pandemia, a incompetência do ministro da Educação Abraham Weintraub, de fato, é um projeto de destruição da educação pública, tanto básica como superior. Contingenciamento de recursos, erros no ENEM e no SISU, escolha do criacionista Benedito Guimarães Aguiar Neto para dirigir a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), redução de bolsas de mestrado e doutorado para programas de pós-graduação, ataques ao PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência), proposta do Future-se contra a Universidade Pública, tudo na perspectiva de combater o suposto “marxismo cultural” e incentivar a privatização da educação pública.

O conjunto dessas medidas contra a escola pública são inseparáveis das diversas facetas do governo Bolsonaro. A reivindicação de “Fora Weintraub!” é inócua e equivocada na atual conjuntura. O centro deve ser a extirpação do governo Bolsonaro e de seu projeto da vida nacional. A retirada de Ricardo Vélez Rodríguez do Ministério da Educação trouxe-nos Abraham Weintraub, outro beócio e discípulo do astrólogo Olavo de Carvalho. Apesar de seu histórico de reprovação, seus erros de português e de matemática, Weintraub cumpre bem sua função no projeto bolsonarista. E há precedentes na história da perversão nazista.

Bernhard Rust (1883-1945), demitido anteriormente do cargo de mestre-escola provincial por debilidades mentais, foi elevado à Ministro da Ciência, Educação e Cultura Nacional entre 1934 a 1945, por sua amizade por Hitler e seu fanatismo.

A defesa da educação, hoje, contra Weintraub e possíveis imbecis que possam substituí-lo, passa pelo: Fora Bolsonaro e Mourão! Militares nos quartéis! Eleições gerais!

Frederico Costa

Professor da Universidade Estadual do Ceará – UECE e Coordenador do Instituto de Estudos e Pesquisas do Movimento Operário – IMO.

Photo by Fred Kearney on Unsplash



[1] Hoje Bebelplatz, onde encontram-se a Ópera de Berlim, edifícios da Universidade Humboldt e a Catedral de Santa Edwiges, a igreja católica romana mais antiga da cidade.