Com nome, mas sem identidade
Há alguns anos, ao ler um livro, deparei-me na contracapa com a descrição de um físico doutor que era indicado apenas como Professor-Adjunto de Física na Washington University, St. Louis. Naquele momento, decidi descrever-me como Professor-Adjunto de Pedagogia na Universidade Estadual do Ceará.
Apesar de um colega também ser pedagogo, fui questionado por ele sobre essa "estranha maneira de eu me identificar". Desde então, comecei a refletir por que me nomear como professor de Pedagogia causava estranheza. Esse fato me remeteu ao tempo em que cursava Pedagogia, e lembrei-me da postura dos professores — fossem eles pedagogos ou não — quanto às suas identidades. Gostaria de delinear essa reflexão com base em alguns exemplos, mas de antemão observo que eram excelentes pessoas, por quem nutria profundo respeito e admiração.
Naquela época, tínhamos a impressão de que a professora de Sociologia era socióloga e a de Psicologia, psicóloga. Embora fossem pedagogas de formação, pareciam aceitar essas novas identidades. Formado em Pedagogia, o professor das disciplinas de Metodologia e Pesquisa, estudioso de György Lukács e Karel Kosik, era tido como filósofo marxista. Outro pedagogo que havia concluído mestrado em Educação não se via como pedagogo, mas sim como teórico marxista. Já a pedagoga que ensinava Estrutura e Planejamento detestava a ideia de associar Pedagogia a crianças. E a professora de Didática, por exemplo, ensinava mais sobre "tecnicismo" e "neotecnicismo" e menos sobre as nuances da relação entre ensino e aprendizagem.
Quanto aos não pedagogos: o professor graduado em Letras, que lecionava Língua Portuguesa e Introdução à Educação, por seguir Marx e Bakhtin, era tido como marxista. O professor graduado em Ciências Econômicas, que ensinava os componentes de Economia, abominava os marxistas e demonstrava desprezo pela Pedagogia. A professora graduada em Filosofia ensinava Introdução à Filosofia e Filosofia da Educação como se estivesse em um curso de Filosofia. O professor graduado em Matemática lecionava Estatística e Medidas Educacionais como se estivesse ensinando em um curso de Matemática Pura. Por fim, o professor graduado em História lecionava pregando contra o marxismo e não fazia nenhuma conexão entre o que ensinava e os propósitos do curso.
Esses fatos servem para demonstrar que as professoras e os professores do curso de Pedagogia baseavam suas identificações docentes estritamente nas disciplinas lecionadas e em suas próprias autoimagens identitárias, falhando em integrar os conteúdos e os objetivos em uma unidade coesa que chamamos Pedagogia. Cada docente, em sua área, estava isolado, como uma ilha em um lago com densidade e margens difusas. Em suma, todos atuavam em um curso de graduação que possuía um nome, mas carecia de uma identificação unificada.
Ainda que esta seja uma análise do passado, ela pode nos revelar muito sobre as implicações que a falta de uma identidade unitária de um campo do conhecimento pode ter, impactando negativamente os estudantes em sua formação e os egressos em sua atuação profissional.
Carlos Bonfim, professor da UECE.