Nesta semana, nosso excelente Miguel Angelo Azevedo Nirez, cumprindo seu papel de memorialista, registrou a data da morte do filósofo Gustavo Barroso, e o fez corretamente, dando sequência aos registros que faz diariamente de datas relacionadas à nossa história.
Problema é que logo apareceram os comentários de admiradores do pensador antissemita nazifascista cearense.
Por isso acho adequado republicar uma crítica que fiz a um pequeno livro do professor Diatahy Menezes sobre a vida do nazifascista. O post original que republico é de 19/6/2023.
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Agora, enquanto esperava atendimento da gerência do banco, li o pequeno ensaio de Diatahy Menezes, Gustavo Barroso - um cearense "ariano" (2006, Museu do Ceará).
O título faz a promessa de uma visão mais crítica sobre o personagem, mas o ensaio biográfico é decepcionante.
E não só porque é pouco elucidativo, mas também porque o professor Diatahy passa um pano gigante para o pensador fascista cearense, tratando seu período de maior militância na extrema-direita como uma espécie de acidente no geral de sua biografia política, mas também reiterando uma queixa acerca do tratamento dado a Barroso pela historiografia em função de sua inclinação ideológica.
Mas curiosamente, ao contrário dos comunistas, esquerdistas e democratas, que pagaram duramente pela resistência ao Estado Novo, Barroso não perdeu por muito tempo nenhum único privilégio ou cargo, mesmo tendo conspirado e participado de duas tentativas de golpe de Estado.
Ao fim do período Vargas, Barroso estava lépido e fagueiro à frente do Museu Nacional e da Academia Brasileira de Letras, como se nada tivesse acontecido.
Sem falar no tratamento simpático que Diatahy dispensa ao perfil humano de Barroso.
A título de justiça, Diatahy não deixa de citar todas as posições fascistas e racistas de Barroso, expressos principalmente no seu período de membro da alta cúpula do Integralismo.
Aos que não sabem, Gustavo Barroso representava a "ala direita" do Integralismo. Enquanto Plínio Salgado macaqueava os modos de Mussolini, Barroso era da vertente hitlerista da Ação Integralista Brasileira.
A relativa simpatia pelo personagem da parte do autor aparece logo na dedicatória do livro, feita a seus filhos e onde se refere a Barroso como "um homem que amou estranhamente sua sofrida e bela Terra da Luz". Na abertura do capítulo "O Integralista Antissemita", Diatahy escreve: "Com o movimento revolucionário de 30, é evidente que Gustavo Barroso, homem conservador e amante da ordem e da disciplina, saiu politicamente disprestigiado"...e o caso de perguntar cearensemente ao professor: diabeisso? As pessoas "amantes da ordem e da disciplina" teriam salvo conduto para aderir ao fascismo? Esta característica diminui a responsabilidade de Barroso por sua opção consciente ao hitlerismo?
Enfim, Barroso ainda precisa de uma biografia que lhe faça justiça como um nazifascista que envergonha o estado do Ceará.
PS: Entre uma série de atitudes criminosas, inclusive atacar fisicamente uma operária grevista no RJ, Barroso traduziu e fez publicar a célebre falsificação antissemita intitulada "Protocolo dos Sábios do Sião" e o libelo racista de Henry Ford, "O Judeu Internacional".
Eudes Baima, professor da UECE
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Sem anistia, nem aos fascistas vivos, nem aos mortos!
