Sobre a concepção
marxista de ser humano
O Homo sapiens é, em
primeiro lugar, um ser natural vivo, isto é, corpóreo, sensível e objetivo, que
possui toda uma história evolutiva anterior– constituída pela dialética da
aleatoriedade das mutações genéticas e da necessidade da seleção natural –, uma
base biológica não eliminável.
Mas, não só isso, o ser humano
compartilha, com os animais e as plantas, a esfera orgânica do ser, a
dependência e a limitação de não ser autossuficiente, pois os objetos de suas
necessidades existem fora dele na natureza, os quais são indispensáveis para a
atuação e confirmação de suas forças essenciais.
O ser humano, como os demais
seres da esfera orgânica, vive da natureza por sere, também, parte dela: “[...]
a natureza é seu corpo, com o qual ele tem de ficar num processo contínuo para
não morrer” (MARX, 2004, p. 84). Homens e mulheres, porém, não são simples seres
naturais que se adaptam ao meio ambiente, segundo as leis da seleção natural.
Municiado de suas próprias forças naturais – como, por exemplo, o cérebro
grande e complexo, a visão binocular, o bipedismo, a habilidade manual e a
potencialidade da “fala” – homens e mulheres são seres naturais ativos, nos quais
essas forças se apresentam como capacidades e possibilidades.
Segundo Costa (2007), do ponto de vista
natural, a constituição física do Homo sapiens é inferior a da maioria
dos animais. O ser humano não tem a pelagem necessária para manter o calor do
corpo num ambiente frio. O corpo humano não é tão eficiente para a fuga, defesa
própria ou caça; não possui uma velocidade excepcional, uma coloração protetora
ou uma armadura corporal; falta-lhe acuidade visual ou força muscular para lhe
dar vantagem sobre sua presa ou defender-se.
Não obstante tudo isso, a espécie
Homo sapiens historicamente demonstrou uma capacidade superior de
ajustar-se ativamente a diversos ambientes do que qualquer outro ser biológico.
De multiplicar-se mais rápido do que qualquer mamífero superior. E, no
fundamental, foi capaz de, subordinando a natureza às suas necessidades,
constituir uma nova estrutura da realidade – a esfera social – não presente na
natureza, embora sem ela não exista.
Frederico Costa, professor da UECE
Referências
MARX. Karl. Manuscritos
econômico-filosóficos. São Paulo: Boitempo, 2004.
COSTA, Frederico Jorge Ferreira. Ideologia
e educação na perspectiva da ontologia marxiana.Tese (Doutorado em
educação) – Faculdade de Educação, Universidade Federal do Ceará,
Fortaleza, 2007.