segunda-feira, 21 de julho de 2025




Trilha Sonora para um Golpe de Estado (2024)


Assista “Trilha Sonora para um Golpe de Estado” (2024). O documentário trata do papel geopolítico do jazz na época da Guerra Fria, utilizado, por exemplo, para alienar massas africanas enquanto líderes como Patrice Lumumba eram assassinados. 


A obra é testemunho de como o jazz foi instrumentalizado pelo Departamento de Estado norte-americano através das “Jazz Diplomacy Tours”, encaminhando figuras como Louis Armstrong e outros para a África, de modo a encobrir o racismo estrutural interno aos EUA, bem como projetar uma imagem positiva do país no exterior.


Além disso, ressalto nesse contexto que Lumumba foi assassinado porque os ianques pretendiam manter o controle sobre o estado de Katanga, no Congo, maior fornecedor de urânio para os EUA sob mediação da Bélgica. 


Com a independência do Congo em 1960, havia o receio estrangeiro de que, sem o urânio congolês e outros minerais estratégicos (titânio e cobalto), não seria possível manter o controle das matérias-primas essenciais para a indústria bélica nuclear. 


Não por acaso, juntamente ao soft power jazzístico exportado, propagava-se a falsa acusação de que Lumumba e o Congo estariam sob influência soviética, legitimando assim o colonialismo por procuração via Bélgica.


Já à época da Segunda Guerra Mundial, a então colônia da Bélgica foi pilhada, com o roubo do urânio por parte dos ianques. Sob ordens do beligerante Projeto Manhattan, tal material foi arrancado da mina de Shinkolobwe (no interior de Katanga) e utilizado em 1945 nas bombas “Little Boy” e “Fat Man”, lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki.


Consequentemente, para continuar a extrair indiscriminadamente o urânio, o cobalto e o titânio do Congo “independente” pós-1960, os EUA, sob o comando do ex-presidente Eisenhower, acionaram a CIA (na pessoa de Sidney Gottlieb - "Joe de Paris" - e de Larry Devlin) para dar ultimato que culminaria no assassinato de Lumumba, torturado e executado friamente. 


Em paralelo, dando vazão a essa economia de guerra (fria), os belgas também invadiram o estado de Katanga e criaram um cordão de isolamento no interior do Congo. O monopólio da produção nuclear era considerado mundialmente indispensável — e essa lógica imperialista persiste até hoje. Criaram assim um “país” artificial sob controle belga e norte-americano — ou melhor, sob controle da OTAN.


Leonardo Lima, professor