sábado, 17 de agosto de 2019

Prosa do pôr do sol




Pôr do sol em Fortaleza


Fim de tarde cheio de saudade na Beira Mar. E o pôr do sol em Fortaleza reluz intensamente nas águas de infinito azul. Sempre admirei o esplendor deste fenômeno da natureza como uma sensação que não se esgota em si mesma, mas, que se amplia na medida em que não estabeleço limites para senti-lo. Tenho insistido nisso tão-somente porque não suporto que me digam como devo sentir as coisas do mundo. O meu egoísmo é assim, uma simbiose de exaltação e aridez.

A única razão pela qual nunca deixo de ver o pôr do sol é quando, invariavelmente, sempre estou desgastado de mim mesmo e não suporto compreender-me. E feito um torvelinho de cansaço e desgosto, só encontro motivos para destroçar este meu egoísmo insípido. Certamente, aquela saudade não é em vão. Pois, sinto a partir de minhas lembranças, a vida como se fosse a última. E esse repertório de vivências dissipadas é um verdadeiro oceano de renúncias e desilusões.

Meu coração é apenas um órgão que faz valvular o sangue no meu corpo. Eu sinto mesmo profundamente tudo é pelo dispositivo do devaneio sensitivo e insano.

Todavia, ao caminhar pelas límpidas areias da praia de Iracema, começo a entender que esse cotidiano de simulacros e encenações de orgulho estúpido (afetuosidades desnecessárias) não passa de beleza mórbida e torpeza fria. Só o pôr do sol aqui para dilacerar minha angústia de existir!.. e tudo é assim, feito brisa leve na contradição de viver. E o meu destino não se encerra em nenhum objetivo pleno, mas em plena tarde, encontro o sentido da vida: não se perguntar o porquê de estarmos aqui.


Madrugada e vento frio

A noite transcorria serena. E um leve sono repentino provocava em mim uma sensação de melancolia confortável. Lá fora um abismo de silêncio. Mas no interior do meu quarto semicerrado ressoava um estampido de saudades mortas. Algo assim não surpreendente pois o que me deixa mesmo extasiado é o vento frio das madrugadas intransponíveis. Porque é nessas horas que eu sinto rebentar um furor inesgotável. E nesta mesquinha cidade de concreto pálido componho minha cantilena absolutamente confessional.

Embora submetido aos meus próprios deslizes, ainda procuro uma razão de ser. Mesmo assim, inquieto, irascível e tolo.


Antonio Marcondes dos Santos Pereira
Doutor em Educação (UFC)
Membro do GEM/UFC