quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Bolsonaro na ONU: Dez pragas da extrema direita brasileira




Foto: ONU

O dia 24 de setembro é um marco na luta de classes no Brasil. Bolsonaro vez um discurso a sua altura e de seu projeto político. A primeira impressão de sua fala: grotesca, insana, vergonhosa, incoerente, fanática, neofacista. Tudo isso é correto. Mas, é preciso ir além porque esse indivíduo tosco, que ganhou fraudulentamente as eleições, tem o apoio da cúpula das forças armadas, a maioria do Congresso Nacional, a estrutura do judiciário nas mãos, a complacência dos grandes meios de comunicação e ainda está com a iniciativa política e milhões de simpatizantes. 
Os trabalhadores encontram-se na defensiva, embora haja uma tendência crescente à polarização política devido ao aprofundamento da crise econômica e social. Daí as defecções e divisão entre as hostes bolsonaristas, o crescimento de golpistas arrependidos e a pressão por uma “frente ampla” até com o PSDB. 
Mesmo nesse contexto de disputa, Bolsonaro resolveu apresentar seu projeto que unifica o amálgama político que constitui seu bloco de poder. Aqui se destacam alguns pontos: 
1 – Ao afirmar um novo Brasil, que ressurge depois de estar à beira do socialismo, Bolsonaro não identifica com isso os altos lucros alcançados pelas diversas frações da burguesia ou do imperialismo. “Socialismo” para o atual governo são as parcas conquistas para a maioria da população brasileira no ciclo petista de “neoliberalismo desenvolvimentista”: recuperação do salário mínimo, novas universidades e institutos federais, avanços na legislação para os setores mais frágeis da sociedade (mulheres, crianças, negros, indígenas, LGBTs). 
2 – A crítica a Cuba não é a uma suposta ditadura, mas à permanente lembrança dos resultados positivos trazidos pelo rompimento com o imperialismo estadunidense, pela expropriação da burguesia e do latifúndio. Cuba exporta médicos e possui um sistema de saúde e educação superior aos países da América Latina, em particular o Brasil. 
3 – Defendeu a Ditadura Militar (1964-1985) – civis e militares brasileiros foram mortos e outros tantos tiveram suas reputações destruídas, mas vencemos aquela guerra e resguardamos nossa liberdade -, que torturou, assassinou, retirou direitos sociais e democráticos, semeou a corrupção e deixou o país em uma profunda crise econômica. 
4 – Atacou a Venezuela, como fiel mascote dos EUA: a Venezuela, outrora um país pujante e democrático, hoje experimenta a crueldade do socialismo. Bolsonaro colocou-se como cúmplice do cerco e da pressão contra a soberania a nacional, por parte do imperialismo, do país que detém 17,9% das reservas comprovadas de petróleo no mundo. 
5 – Em relação ao meio ambiente e à Amazônia, mentiu descaradamente e criticou a ciência: É uma falácia dizer que a Amazônia é patrimônio da humanidade e um equívoco, como atestam os cientistas, afirmar que a nossa floresta é o pulmão do mundo. 
6 – Revelou para todos a sua face genocida em relação aos indígenas: Quero deixar claro: o Brasil não vai aumentar para 20% sua área já demarcada como terra indígena, como alguns chefes de Estados gostariam que acontecesse. Indicando que o objetivo do seu governo é avançar sobre as riquezas presentes nas reservas indígenas: Nessas reservas, existe grande abundância de ouro, diamante, urânio, nióbio e terras raras, entre outros. 
7 – O “patriota” de Trump afirmou-se como fiel guardião da posição subordinada do Brasil na divisão internacional do trabalho: Estamos abrindo a economia e nos integrando às cadeias globais de valor. 
8 – Alinhou-se com uma das maiores fraudes judiciárias do mundo, defendendo a prisão política do ex-Presidente Lula e o golpe de Estado: Há pouco, presidentes socialistas que me antecederam desviaram centenas de bilhões de dólares comprando parte da mídia e do parlamento, tudo por um projeto de poder absoluto. Foram julgados e punidos graças ao patriotismo, perseverança e coragem de um juiz que é símbolo no meu país, o Dr. Sérgio Moro, nosso atual Ministro da Justiça e Segurança Pública. 
9 – Sintonizou-se com a superexploração do trabalho e retirada de direitos sociais: No meu governo, o Brasil vem trabalhando para reconquistar a confiança do mundo, diminuindo o desemprego, a violência e o risco para os negócios, por meio da desburocratização, da desregulamentação e, em especial, pelo exemplo. 
10 – Por fim, entre outros absurdos, revestiu seu projeto nacional e antipopular com as vestes surradas do fanatismo religioso e de uma mítica família patriarcal, identificando os direitos à educação e à cultura como “ideológicos”: A ideologia se instalou no terreno da cultura, da educação e da mídia, dominando meios de comunicação, universidades e escolas. A ideologia invadiu nossos lares para investir contra a célula mater de qualquer sociedade saudável, a família. Tentam ainda destruir a inocência de nossas crianças, pervertendo até mesmo sua identidade mais básica e elementar, a biológica. O politicamente correto passou a dominar o debate público para expulsar a racionalidade e substituí-la pela manipulação, pela repetição de clichês e pelas palavras de ordem. A ideologia invadiu a própria alma humana para dela expulsar Deus e a dignidade com que Ele nos revestiu. 
Eis uma síntese do que a permanência do governo Bolsonaro significa para a maioria da população brasileira. Uma verdadeira política de terra arrasada, ditadura, subserviência ao imperialismo estadunidense, superexploração, racismo, genocídio, preconceito e obscurantismo religioso. Não há alternativa: ou o Brasil, ou o Governo Bolsonaro!

Frederico Costa
Professor da UECE - Universidade Estadual do Ceará
Diretor do Sindicato dos Docentes da Universidade Estadual do Ceará – SINDUECE/ANDES-SN
Coordenador do Instituto de Estudos e Pesquisas do Movimento Operário-IMO

Este artigo pode ser encontrado no esquerdaonline e no site do SINDUECE.