Frederico Costa, Professor da UECE
A ordem de leitura dos vinte e sete textos do cânon do Novo Testamento da Bíblia cristã obedeceu a critérios ideológicos-teológicos. O objetivo foi consolidar ideias e práticas impostas pela autoproclamada ortodoxia dos primeiros cinco séculos do cristianismo (a chamada patrística) como, por exemplo: 1) a ideia de que Jesus morreu, foi sepultado e no terceiro dia ressuscitou; 2) a tentativa de harmonizar as diferentes percepções entre os próprios autores neotestamentários sobre quem teria sido Jesus; 3) identificar qual era a verdadeira mensagem de Jesus; 4) a visão de que Jesus foi amplamente citado pelos autores da Bíblia judaica (Antigo Testamento).
A leitura teológica da Bíblia é um fenômeno social ideológico porque visa apresentar uma visão da realidade e, com base nisso, induzir a certas formas de comportamento e de pensamento de indivíduos e comunidades. Essa perspectiva ideológica procura uniformizar as interpretações, alinhar as expectativas e as narrativas da experiência religiosa cristã com o objetivo de oferecer esperança e sentido de vida aos fiéis. Hoje há inúmeras leituras teológicas conforme a doutrina de cada corrente cristã, seja católica (modernista, conservadora, tradicional ou da libertação), seja protestante (luterana, calvinista, arminiana, pentecostal, adventista ou neopetencostal).
A ciência e a história, em particular, procuram compreender como e porque os processos reais que formaram o Novo Testamento ocorreram. Por isso, trabalham noutra perspectiva e utilizam uma leitura cronológica. Conforme Chevitarese (2022), a leitura cronológica do Novo Testamento:
1) Estabelece uma ordem cronológica dos textos, definindo quais seriam aqueles mais próximos e aqueles mais distantes de Jesus.
2) Reconhece que nenhum autor cristão do Novo Testamento foi testemunha ocular de Jesus.
3) Admite que entre a morte de Jesus, ocorrida na primeira metade dos anos 30 da Era Comum (EC), e o início da redação dos primeiros textos, que se deu nos anos 50 do século I, o Movimento de Jesus sem Jesus conheceu duas fases de produção de dados, que apesar de serem distintas, coexistiram entre si: a) as memórias de uma geração inteira de indivíduos que conheceram Jesus, e b) as tradições orais, que incluíam essas memórias, mas que englobavam também memórias de pessoas que nunca tiveram contato com Jesus;
4) Quanto mais antigo for um texto cristão, maiores serão as chances dele trazer narrativas que possam conter dados relacionados à vida de Jesus.
Essa postura científica de leitura dos textos do Novo Testamento em ordem cronológica possibilita o rompimento com as leituras teológicas, que distorcem a realidade dos fatos.
Eis o quadro de leitura cronológica do Novo Testamento publicado pela professora Juliana Cavalcanti.
Boa leitura.
Referências
CHEVITARESE, André Leonardo. Planejamento de leitura cronológica do Novo Testamento. Rio de Janeiro: Menocchio, 2022.
https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=uyFew9vGZ5Y, Canal de Juliana Cavalcanti no YOUTUBE