Os homens são, essencialmente, seres ativos. Transformam a natureza para a satisfação de suas necessidades. Nesse processo transformam a si mesmos, suas relações sociais, suas maneiras de agir, suas formas de pensar e ver o mundo.
O pensamento crítico é um tipo de práxis que surgiu para dar resposta às exigências do próprio desenvolvimento social. Embora estivesse presente, de maneira lacunar, em várias culturas, como a chinesa, a hindu, a hebraica e egípcia, por exemplo, foi na Grécia antiga que emergiu de maneira sistemática. O pensamento crítico ou filosófico-científico, isto é, racional, não dogmático e metódico vai nascer nas colônias gregas da Jônia, atualmente Turquia, no século VI a.C.
O pensamento filosófico-científico é uma forma específica de pensar que supera o denominado pensamento mítico.
O pensamento mítico é a maneira pela qual um povo ou comunidade explica sua situação no mundo em que vive. Ele procura responder perguntas como: a origem do mundo, o funcionamento da natureza, o sentido da vida, o fundamento dos valores, a estrutura social, o comportamento dos indivíduos. Sua forma de proceder é por meio de mitos. Incialmente, com base em lendas e narrativas que fazem parte da tradição cultural de um povo ou comunidade. A origem histórica dos mitos é indeterminada e sua forma de transmissão inicial é basicamente oral.
Importante destacar que como tradição cultural o mito configura a própria visão de mundo dos indivíduos, a sua maneira de viver a realidade. E, como o pensamento mítico não exige fundamentação, ele pressupõe adesão: a aceitação dos indivíduos de formas de experiência com o real. Nesse sentido, o mito não se justifica e não se questiona, excluindo outras perspectivas para debater. Daí a tendência do pensamento mítico tornar-se dogmático, autoritário e excludente. Então, ou o indivíduo faz parte da comunidade e aceita a estrutura mítica que explica e justificas sua atividade social ou não pertence a ela.
Um dos elementos centrais da estrutura mítica de pensamento é a explicação da realidade por meio do apelo ao sobrenatural ou ao mistério, levando aos mecanismos do sagrado, da magia e do irracional.
No pensamento mítico há um paradoxo. Por um lado, pretende explicar a realidade para dar plausibilidade a determina práxis social; por outro lado, recorre nessa explicação ao mistério e ao sobrenatural: exatamente àquilo que não pode explicar, que não pode se compreender por estar fora do plano da compreensão humana. Logo, a explicação do pensamento mítico esbarra no inexplicável. É bom destacar que essa estrutura não está confinada apenas à esfera de comportamentos denominados de religiosos, mas apresenta-se, também, sob a forma de discursos seculares e laicos.
Já o pensamento filosófico-científico choca-se com a postura mítica porque procura explicar o mundo pelo próprio mundo, não necessitando de um plano extramundano como fundamento explicativo. Essa é uma postura crítica. O conhecimento e a compreensão da realidade passam a se basear na rebelião contra certezas que parecem óbvias e naturais. O conhecimento nutre-se de uma radical falta de certezas. O pensamento crítico é fluido e capaz de desenvolvimento constante, com capacidade de subverter a ordem das coisas e repensar continuamente o mundo.
A crise do capitalismo gera uma crescente desigualdade social, também, insegurança, respostas desesperadas e alienantes. Proliferam a ideologia anticientífica e o irracionalismo, que servem de fundamento para perspectivas reacionárias e conservadoras da extrema-direita. O pensamento mítico fortalece-se, atualmente, como forma de um “discurso de ódio”, elitista, racista, xenofóbico, machista, lgbtfóbico e anti-intelectual, que ameaça o futuro.
Mais do que nunca é preciso, defender, resgatar, divulgar e utilizar o pensamento crítico. A falta de certeza, a dúvida, a busca pelas raízes das coisas e processos são a força da práxis filosófico-científica, baseada na curiosidade, na revolta e na mudança. É preciso submeter à discussão continua os fundamentos da visão de mundo dominante. Daí a importância de perguntas como estas:
1. Como você sabe que isso é verdade?
2. Quem disse que isso é verdade?
3. Você pode provar que isso é verdade?
4. Há alguma evidência científica ou racional de que isso é verdade?
5. É possível que alguém tenha inventado isso?
6. De que outras formas podemos explicar isso?
7. Isso serve a algum interesse?
Diante da atual conjuntura: vamos pensar criticamente?
Frederico Costa
Professor da UECE - Universidade Estadual do Ceará
Diretor do Sindicato dos Docentes da Universidade Estadual do Ceará – SINDUECE/ANDES-SN
Coordenador do Instituto de Estudos e Pesquisas do Movimento Operário-IMO
Diretor do Sindicato dos Docentes da Universidade Estadual do Ceará – SINDUECE/ANDES-SN
Coordenador do Instituto de Estudos e Pesquisas do Movimento Operário-IMO