quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Sinopse do processo de trabalho e o processo de valorização


MARX, Karl. O processo de trabalho e o processo de valorização. In: MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Livro 1. O processo de produção do capital. Tradução Rubens Enderele. São Paulo: Boitempo, 2013. p. 255-263.

 

O texto em tela apresenta-se dividido em dois tópicos a saber: 1. O processo de trabalho e 2. O processo de valorização. Ao longo desses, Marx se propõe a explicar que o processo de trabalho é uma atividade intrínseca ao homem, fazendo parte de sua constituição enquanto ser e que, por isso, ela permanecerá acontecendo independente das suas condições objetivas, estando situado historicamente ou não dentro do capitalismo. Ou seja, o trabalho acontece não por conta de um determinado modo de produção, mas porque o homem necessita dessa atividade para sua própria reprodução.

Desse modo, encontramos no primeiro tópico do texto a elucidação da categoria trabalho e, em seguida, dos elementos do processo de trabalho. Marx defende a ideia de que o trabalho é, antes de tudo, a relação transformadora entre o homem e a natureza a fim de saciar suas necessidades. Nesta relação o homem é o sujeito ativo, controlando e regulando sua atividade metabólica com a natureza, que é por ele modificada ao mesmo tempo em que ele se automodifica. O trabalho é, portanto, uma atividade desenvolvida exclusivamente pelos homens que resulta na sua própria transformação, seja porque adquiriu novos conhecimentos sobre essa própria natureza ou porque tem agora sua necessidade atendida e novas objetivações para se relacionar, e na transformação da natureza em um bem que servirá ao homem em acordo com sua utilidade.

Operando nas dimensões objetiva e subjetiva da vida do homem, o trabalho lhe funda enquanto ser social desenvolvendo suas potências e colocando em movimento suas capacidades universalizantes, como por exemplo: o conhecer, o comunicar-se e o projetar.

Esta última, nomeada de teleologia, é a capacidade que o homem tem de elaborar idealmente o resultado que almeja chegar ao final do trabalho. Disso decorrem duas questões elaboradas por Marx, a primeira diz respeito à caracterização do trabalho, pois se o homem possui tal capacidade, o trabalho será sempre uma atividade orientada a um fim; segundo que esta capacidade serve para distinguir o homem dos outros animais, visto que estes agem em acordo com seus instintos e executam sempre a mesma atividade e do mesmo modo, enquanto o homem ao projetar o resultado da sua atividade, objetiva-se e transforma-se, executando sua atividade seguinte a partir de objetivações precedentes e elaborando outras formas de executar a mesma atividade.

Além  disso,  nesse  tópico  Marx  destaca  os  elementos  essenciais  ao desenvolvimento do trabalho: objetos de trabalho (matéria-prima), meios de trabalho (instrumentos) e força de trabalho (trabalhador); e sintetiza que o processo de trabalho reúne todos esses elementos, no qual o trabalhador cria ferramentas para mediar sua ação modificadora junto da matéria-prima plasmando um produto que possui valor de uso. Este último é entendido como a funcionalidade característica do produto do trabalho, a qual visa atender às necessidades humanas constituindo-se, assim, em objeto a ser consumido.

Para finalizar o tópico 1, o autor deixa claro que a natureza do processo de trabalho em nada muda ao ser realizado dentro do modo de produção capitalista. Entretanto, o laborar  do  trabalhador  sob  o  controle  capitalista  faz  com  a  força  de  trabalho  seja apropriada pelo capitalista e, consequentemente, o produto final do trabalho será de propriedade do capitalista. Assim, o objetivo final desse processo de trabalho não é mais simplesmente saciar as necessidades humanas, mas produzir mercadorias.

Já no segundo tópico do texto temos a explicação do processo de valorização que se trata da maneira como ocorre a criação do valor de troca necessário à composição do valor de um produto para que este venha a ser mercadoria. A mercadoria é, portanto, o resultado do trabalho apropriado dentro do capitalismo e que possui não só seu valor de uso, mas também de troca; este valor de troca, objetivando a formação e extração de capital pelo capitalista, deverá ser quantitativamente maior que o necessário para a composição dos elementos do trabalho, portanto, ao longo do processo de sua constituição deverá sofrer incremento de seu valor, posto que seu valor final é a junção simples dos valores de uso dos elementos do trabalho.

Marx deixa claro que o capitalista está interessado na produção do mais-valor e que  este  se  origina  na  esfera  da  produção  sendo  realizado  na  esfera  do  consumo. Concernente ao movimento da esfera da produção, entendido como processo de formação de valor, temos dois pontos analisados pelo autor: o primeiro que diz respeito ao Valor da força de trabalho e o segundo que se refere à Valorização da força de trabalho.

A primeira tarefa é calcular o trabalho materializado enquanto valor de uso, ou seja, o tempo de trabalho socialmente necessário para a finalização de um produto. O cálculo do valor de troca da força de trabalho (mercadoria) se expressa pelo valor em dinheiro que servirá de manutenção da subsistência do trabalhador; Marx considera que este valor é equivalente à meia jornada de trabalho. Num segundo aspecto, o autor considera que ao se vender enquanto mercadoria, a força de trabalho possui ocultada seu real valor de uso que gera mais valor do que aquele contabilizado para seu valor de troca. Em linhas gerais, o trabalhador precisaria dedicar uma jornada sua de trabalho para garantir sua subsistência, mas ao realizar outra jornada de trabalho gera um valor que não lhe será revertido e sim apropriado por quem compra sua força de trabalho, posto que aquilo que é produzido pelo trabalhador no modo de produção capitalista não pertence a ele. Aqui encontramos o que Marx chama de “geração de mais-valor”.

Fica claro, portanto, que o texto constrói sua linha de pensamento apresentando o processo de trabalho tanto como produtor de mercadoria (produto final do trabalho) quanto consumidor de mercadoria (elementos do trabalho); e que o consumo de um específico elemento de trabalho (a força de trabalho) gera dispêndio ao ser comprada, mas no seu processo de consumo pelo capitalista gera um valor a mais do que aquele necessário para a sua compra. Dessa forma, para Marx, a geração de mais valor se opera na esfera da produção de mercadorias, as quais encaminhadas para a esfera da circulação são vendidas por um valor acima do necessário para sua produção.

Para finalizar o texto e baseado no que foi exposto, Marx expõe que objetivando a extração do mais-valor, o capitalista controlará todo o processo de trabalho a fim de que não tenha nenhum desperdício do uso da força de trabalho; e chama-nos atenção para o fato de que quanto mais alto é o custo de formação da força de trabalho mais alto será também o seu valor de troca e o mais valor produzido.


Elydiana Pontes

Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual do Ceará - PPGE/UECE