sábado, 25 de maio de 2019

O anti marxismo de Carla Akotirene





Olá, pra quem não me conhece, eu sou Karla Costa, sou membra do GPOSSHE, e nesse texto nós vamos esclarecer um pouco mais sobre o antimarxismo de Carla Akotirene. Num dos textos passados aqui do site, discutimos sobre a categoria, o conceito de interseccionalidade, e nos baseamos, principalmente nessa obra da ativista negra Carla Akotirene, atualmente ela é, inclusive, doutoranda em Estudos Interdisciplinares de Gênero, Mulheres e Feminismos, pela UFBA, e nesse texto eu citei rapidamente o fato da autora fazer uma crítica a teoria marxista, considerando Karl Marx e Friederich Engels, a teoria fundada por eles, como uma teoria eurocêntrica e branca, portanto, uma epistemologia que deve ser negada pela luta negra, e é importante aqui discordarmos dessa perspectiva e dizer que o antimarxismo dessa autora é nefasto pra classe trabalhadora, mas por qual motivo?

Não é o fato de uma teoria ser elaborada por um branco ou por um negro, por um indígena, não é a localização social do indivíduo que elabora uma teoria que qualifica ou não essa teoria, o que a qualifica é a correspondência dela com a realidade, e aí percebemos esse antimarxismo dela, e esse anti epistemologias brancas e eurocêntricas, nessa própria obra que ela discute Interseccionalidade, quando ela diz que vai rejeitar expectativas literárias elitistas, jargões literários, escrita complexa, abstrações científicas paradoxais, que essas teorias são míopes a gramática ancestral da África e Diáspora, ela vai rejeitar também a tomada da mulher de maneira universal, enfoques socialistas encurtados a questão de classes, que segundo ela, negaram as humanidades africanas, todas essas categorias que ela rejeita, precisariam ser discutidas uma por uma pra gente entender que essa negação simplista não justifica a rejeição a teoria marxista ou qualquer outra teoria que se localize nesse lugar social do indivíduo privilegiado, digamos.

Por exemplo, quando ela critica a categoria de mulher universal ela afirma, e nesse sentido, há um fundamento de verdade, de que o feminismo foi descampando para uma perspectiva burguesa, branca, isso realmente aconteceu, principalmente, no feminismo estadunidense, e até hoje, o feminismo mais difundido é o que a gente tem chamado de feminismo liberal e essa perspectiva de uma luta das mulheres por questões de liberdade de expressão, de salários equivalentes aos dos homens, ser dona do próprio corpo, poder andar na rua, expor seu corpo em revistas, enfim...

Inclusive, saiu um artigo esses dias, e ele circulou nas rodas feministas, sobre o feminismo de mercado, vou deixar aqui o link. Então, quando ela afirma que o feminismo descampou muito para essa luta, esquecendo as singularidades das mulheres negras, pobres, ela tem total razão, o que não significa que ao falar em universalidade estejamos falando que essas mulheres são universais, no sentido de que elas representam todas as mulheres.

Para o materialismo histórico e dialético, o universal é o que se repete através do múltiplo, do diverso, do diferente, então, quando pensamos numa categoria universal, a gente não esquece as singularidades, pois a universalidade só existe porque há singularidades, então, em cada singularidade há traços que se repetem, então são esses traços que a gente considera universal, esses traços estão presentes tanto em mulheres brancas quanto em mulheres negras, quando a gente luta pela liberdade universal do ser humano, é a liberdade de todos os indivíduos, e aí a teoria marxista vai explicar pra gente que essa liberdade é possível, historicamente ela já está, inclusive, dada, no sentido de que o capitalismo já se desenvolveu suficientemente pra dar condições de existência para todos os indivíduos singulares, mas isso não aconteceu porque a sociedade capitalista também se refaz e reestrutura sua forma de opressão, sua forma de exploração.

Nesse sentido, por que a mulher branca foi pensada como universal? Universal é, no pensamento também, uma abstração singular, então, você tendo, como elas mesmas identificam, uma epistemologia hegemônica, uma fala hegemônica e as mulheres negras não tendo esse espaço, e precisando disputar esse espaço de fala, de pensamento, de conhecimento, a mulher branca foi pensada como universal porque é a mulher branca que é majoritária na classe dominante, e que tem, portanto, a hegemonia do pensamento, da fala e do conhecimento, então, é preciso sim, dentro do feminismo lutar contra a hegemonia e dessa ideia de que a mulher universal é a mulher branca, só que isso não pode significar a gente rejeitar as teorias que foram produzidas por homens e mulheres brancas, apenas por esse fato, se essas teorias correspondem com a realidade e nos dão fundamento pra superar a sociedade capitalista elas nos são caras, do mesmo modo que se elas tivessem sido produzidas por homens e mulheres negras, pobres, da periferia, enfim... ainda há que se pensar as condições objetivas de produção intelectual da classe trabalhadora, pra gente entender que, apesar das experiências e das vivências individuais serem importantes pra luta, não necessariamente esses indivíduos vão poder se produzir teoricamente.

Então, essa imagem, que a mulher branca é a mulher universal, isso não passa de aparência, ou seja, é uma visão turva da realidade, na essência, a compreensão universal de mulher é uma construção histórica, tanto que a Simone de Beauvoir já nos deixou muito bem explicado isso, nós não nascemos mulher, nos tornamos mulher, num processo histórico que é uma série de determinações, que constroem essa ideia, esse conceito de mulher, que são sociais, pessoais, que são históricas, culturais, enfim...

Todas essas determinações vão convergir para a construção de um conceito de mulher universal, então, por mais que esse movimento que a gente aqui critica, esse feminismo negro liberal, venha criticar o marxismo, é preciso afirmar que o marxismo é sim uma teoria universal, por mais que Marx e Engels tenham sido europeus, brancos, e, no caso do Engels, principalmente, seja um filho de burguês, mas esses dois homens, eles não tinham só uma fala revolucionária, mas uma prática revolucionária, e essa teoria que eles legaram para a humanidade, essa teoria é revolucionária, diferentemente da posição de Carla Akotirene, que é uma posição contrarrevolucionária, uma mulher negra, periférica, militante do feminismo negro, mas que está produzindo uma teoria que faz uma defesa de uma postura nefasta para a classe trabalhadora, pois, sem teoria revolucionária não há prática revolucionária.

Não basta entender a opressão, é preciso superar a opressão e já tenho dito isso aqui em alguns vídeos. E aí, se há ainda alguma dúvida do que eu falei sobre esse antimarxismo dessa autora, vocês assistir um vídeo de um evento chamado MULHER COM A PALAVRA, no qual Carla Akotirene, vai dizer que a interseccionalidade é uma encruzilhada pra Exu nunca mais comer marxismo, essa frase é uma prova do antimarxismo dessa autora, e esse antimarxismo é que não deveria ser comido por Exu.


Karla Raphaella Costa Pereira
Doutoranda em Educação (PPGE/UECE)