domingo, 12 de maio de 2019

Nazismo, educação e o governo Jair Bolsonaro




Foto:NeONBRAND

O governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro, fruto de um processo de golpe de Estado e eleito fraudulentamente[1], propaga a mentira de que o nazismo foi de esquerda. De fato, os procedimentos e a política do atual desgoverno brasileiro revelam constantemente seu parentesco com o nazi-fascismo.
De acordo com Gilbert (2014), em 28 de maio de 1942, em plena II Guerra Mundial, Himmler, dirigente nazista das SS e da Gestapo, finalizou um documento aprovado por Hitler que visava reduzir maciçamente a população nas zonas conquistadas no Leste. O objetivo era dividir a população do que outrora fora a Polônia “no maior número possível de parcelas e fragmentos”. Depois os “elementos racialmente válidos” seriam “extraídos dessa miscelânea”, e o refugo seria deixado a “vegetar”. Então, segundo Himmler, a população polonesa ficaria “necessariamente reduzida a seres humanos inferiores”, tornando-se uma “força de trabalho acéfala” a serviço da Alemanha. Nesse contexto, as crianças “racialmente válidas” seriam levadas para a Alemanha e “germanizadas”; as restantes seriam obrigadas a receber instrução primária suficiente apenas para aprenderem “a contar até, no máximo, quinhentos, a escrever o nome, a saber que Deus manda que obedeçam aos alemães e a serem honradas, diligentes e corajosas”. 
Bem, guardadas as devidas proporções, Bolsonaro e sua equipe se comportam, em relação à maioria da população brasileira, como um governo de ocupação. No MEC foi instaurada a farsa da luta contra o “marxismo cultural”, pelos dois ministros indicados até agora: primeiro, o colombiano Ricardo Veléz Rodriguez, depois, Abraham Weintraub, dois cavaleiros da cruzada anticomunista. Toda vez que se levantou a bandeira do anticomunismo, própria do fascismo, sempre foi contra o interesse dos trabalhadores. Vejamos.
O governo publicou no dia 29 de março, em edição extraordinária do Diário Oficial da União, o decreto de programação orçamentária com o detalhamento do bloqueio de mais de R$ 29 bilhões em gastos no Orçamento de 2019. Para a educação, em valores absolutos houve bloqueio de R$ 5,83 bilhões. Isso indica que, sob o manto de combate ao “marxismo cultural”, de fato existe um projeto de destruição da educação pública, tanto o ensino superior como a educação básica. Já o guru da família Bolsonaro e mentor dos dois ministros, o escritor e astrólogo Olavo de Carvalho, adiantou pelo seu facebook[2]que:

Quem DESTRUIU o Brasil foram os professores de filosofia, direito e ciências sociais. Essa gente tem de ser desmascarada por completo, e o será, pouco importando a sua superioridade numérica.
E depois acrescentou:

Minha mãe sempre falava com carinho da sua professora de escola primária, Dona Simira, que dava a vida pelos alunos e nunca reclamou do salário. Só com a instrução que recebeu dela, Dona Nice escrevia em português correto, com uma caligrafia maravilhosa, e fazia tudo quanto é conta de cabeça até o último dia dos seus 99 anos de vida.
Em síntese, eis o projeto bolsonarista: retirar recursos da educação; atacar professores da área de humanas, em especial Filosofia e Ciências Sociais; rebaixar salários dos trabalhadores da educação e, centrar o processo de formação em ler, escrever e contar. 
Nesse sentido, o presidente Jair Bolsonaro afirmou, em seu Twitter, no dia 26 de abril, que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, "estuda descentralizar investimento em faculdades de filosofia e sociologia (humanas)", pois a“função do governo é respeitar o dinheiro do contribuinte, ensinando para os jovens a leitura, escrita e a fazer conta e depois um ofício que gere renda para a pessoa e bem-estar para a família, que melhore a sociedade em sua volta"[3].
Tal orientação educacional, somada aos ataques a professores, alunos e entidades sindicais, à defesa da ditadura militar, à campanha obscurantista contra a ciência e a escola pública, fariam Hitler, Himmiler e seus comparsas nazistas sorrirem de orgulho dos seus seguidores tupiniquins. 
Na realidade, esse projeto educacional de natureza fascista tem como objetivo: formar uma força de trabalho alienada com poucos recursos estatais, aumentar ainda mais os mecanismos de superexploração, favorecer o capital estrangeiro e interno na privatização da educação, aniquilando uma geração de trabalhadores da educação críticos e comprometidos com um Brasil livre, soberano e dirigido pelos interesses da maioria da população. 
Como afirma o pedagogo Demerval Saviani (2003), o processo educativo consiste no de ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens. É isso que interessa aos trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade. O nazi-fascismo foi detido e varrido da história. Deter o governo Bolsonaro e os interesses que ele representa dependerá da unidade e da luta de milhões. É possível vencer.


Referências Bibliográficas
GILBERT, Martin. A Segunda Guerra Mundial: os 2.174 dias que mudaram o mundo.  Ana Luísa Faria e Miguel Serras Pereira. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 1974.
SAVIANI, Demerval. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 8ª ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2003.


Frederico Costa
Professor da UECE - Universidade Estadual do Ceará
Diretor do Sindicato dos Docentes da Universidade Estadual do Ceará – SINDUECE/ANDES-SN
Coordenador do Instituto de Estudos e Pesquisas do Movimento Operário-IMO
Artigo publicado originalmente no esquerdaonline.com.br em 02/05/2019 - 12h45min.